Resumo

INTRODUÇÃO
A Educação Física Escolar do Instituto Benjamin Constant (IBC) destinada a alunos com deficiências múltiplas teve como base no ano de 2016 a proposta de um Currículo Funcional Natural (CFN) com a finalidade de desenvolver conhecimentos funcionais e necessários à vida, buscando proporcionar atividades nas diferentes dimensões do conhecimento (COLL et al., 2000), considerando as características sociais, econômicas, culturais, físicas e cognoscitivas do alunado.
Através de conversas com responsáveis e demais profissionais realizamos a avaliação diagnóstica dos alunos, procurando identificar aprendizados necessários a sua formação enquanto sujeito e cidadão para construir a proposta de CFN específica às características de cada discente.
O CFN é uma proposta metodológica, uma filosofia, mais que ações isoladas, deve ser trabalhado na sala de aula, buscando aumentar as respostas adaptativas, desenvolver habilidades funcionais úteis na vida dos alunos, tornando-os mais independentes, produtivos e aceitos socialmente (SUPLINO, 2005).

CONTEXTUALIZANDO... 
A aluna foco deste relato possui nove anos de idade, diagnosticada com displasia septo ótica, também conhecida como síndrome de Monsier, “[...] uma condição congênita rara definida por dois critérios da tríade: defeitos de linha média, hipoplasia de nervo óptico e insuficiência hipotálamo-hipofisária.” (FERRAN et al., 2010, p.400). Cega, não oralizada, com dificuldades de se expressar e se locomover, possui histórico de refluxo e convulsões. Neste caso, a proposta de EFE teve como base atividades funcionais relacionadas ao corpo e movimento em ambiente líquido.

A EXPERIÊNCIA...
Nas primeiras aulas, buscamos conhecer as possibilidades e necessidades da aluna e percebemos que a mesma não aceitava bem o toque, não respondia a comandos imediatos, cantarolava bastante durante a aula, não conseguia sugar nem soprar o ar de forma intencional, tinha sensibilidade a sons altos e tinha o hábito de beber a água da piscina. Quando contrariada expressava comportamentos autolesivos. Nosso ponto de partida foi tentar estabelecer formas de comunicação com a aluna.
As aulas foram planejadas visando à adaptação ao meio líquido, conhecimento de materiais específicos de atividades aquáticas e desenvolvimento de atividades funcionais, buscando respostas à comunicação que tentávamos estabelecer. Passada essa adaptação passamos a introduzir materiais às aulas como macarrão, pranchas, bolas e bóias. Os materiais eram utilizados para promover e estimular atividades funcionais como soprar, bater as pernas, responder à comunicação, se expressar física e oralmente, diminuir os comportamentos autolesivos e parar de beber a água da piscina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas melhoras foram observadas. A aluna conseguiu flutuar com auxílio do macarrão, bater perna com a ajuda do professor, mergulhar ficando totalmente submersa, atendeu aos chamados do professor, diminuiu o hábito de beber a água da piscina, passando a entrar e sair da mesma andando com as orientações de mobilidade. A experiência não pode ser generalizada, mas pode servir de base para futuras práticas com situações semelhantes.
Os alunos possuem características físicas, sociais e cognoscitivas, limitações e possibilidades únicas, diversas e diferentes, as quais a escola precisa considerar na construção de sua proposta pedagógica e curricular. O CFN busca identificar as necessidades de cada aluno e desenvolvê-las de forma específica, proporcionando aprendizados significativos e necessários à vida do estudante, contribuindo para uma educação ética, digna e de qualidade.

REFERÊNCIAS
COLL, César; POZO, Juan Ignacio; SARABIA, Bernabe; VALLS, Enric. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed, 2000.

FERRAN, Karina de et al. Displasia septo-óptica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria (online), vol.68, n.3, p.400-405, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/anp/v68n3/v68n3a14.pdf>. Acesso em 5 fev. 2017.

SUPLINO, Maryse. Currículo Funcional Natural: guia prático para a educação na área do autismo e deficiência mental. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos – Coordenadoria Nacional para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Maceió: Assista, 2005.

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