Síndrome de Monsier e Educação Física Escolar: Uma Experiência com Currículo Funcional Natural
Por Arlindo Fernando Paiva de Carvalho Junior (Autor), Marcelo Moreira de Souza (Autor), Paulo Sergio de Miranda (Autor).
Em XX Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e VII CONICE - CONBRACE
Resumo
INTRODUÇÃO
A Educação Física Escolar do Instituto Benjamin Constant (IBC) destinada a alunos com deficiências múltiplas teve como base no ano de 2016 a proposta de um Currículo Funcional Natural (CFN) com a finalidade de desenvolver conhecimentos funcionais e necessários à vida, buscando proporcionar atividades nas diferentes dimensões do conhecimento (COLL et al., 2000), considerando as características sociais, econômicas, culturais, físicas e cognoscitivas do alunado.
Através de conversas com responsáveis e demais profissionais realizamos a avaliação diagnóstica dos alunos, procurando identificar aprendizados necessários a sua formação enquanto sujeito e cidadão para construir a proposta de CFN específica às características de cada discente.
O CFN é uma proposta metodológica, uma filosofia, mais que ações isoladas, deve ser trabalhado na sala de aula, buscando aumentar as respostas adaptativas, desenvolver habilidades funcionais úteis na vida dos alunos, tornando-os mais independentes, produtivos e aceitos socialmente (SUPLINO, 2005).
CONTEXTUALIZANDO...
A aluna foco deste relato possui nove anos de idade, diagnosticada com displasia septo ótica, também conhecida como síndrome de Monsier, “[...] uma condição congênita rara definida por dois critérios da tríade: defeitos de linha média, hipoplasia de nervo óptico e insuficiência hipotálamo-hipofisária.” (FERRAN et al., 2010, p.400). Cega, não oralizada, com dificuldades de se expressar e se locomover, possui histórico de refluxo e convulsões. Neste caso, a proposta de EFE teve como base atividades funcionais relacionadas ao corpo e movimento em ambiente líquido.
A EXPERIÊNCIA...
Nas primeiras aulas, buscamos conhecer as possibilidades e necessidades da aluna e percebemos que a mesma não aceitava bem o toque, não respondia a comandos imediatos, cantarolava bastante durante a aula, não conseguia sugar nem soprar o ar de forma intencional, tinha sensibilidade a sons altos e tinha o hábito de beber a água da piscina. Quando contrariada expressava comportamentos autolesivos. Nosso ponto de partida foi tentar estabelecer formas de comunicação com a aluna.
As aulas foram planejadas visando à adaptação ao meio líquido, conhecimento de materiais específicos de atividades aquáticas e desenvolvimento de atividades funcionais, buscando respostas à comunicação que tentávamos estabelecer. Passada essa adaptação passamos a introduzir materiais às aulas como macarrão, pranchas, bolas e bóias. Os materiais eram utilizados para promover e estimular atividades funcionais como soprar, bater as pernas, responder à comunicação, se expressar física e oralmente, diminuir os comportamentos autolesivos e parar de beber a água da piscina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas melhoras foram observadas. A aluna conseguiu flutuar com auxílio do macarrão, bater perna com a ajuda do professor, mergulhar ficando totalmente submersa, atendeu aos chamados do professor, diminuiu o hábito de beber a água da piscina, passando a entrar e sair da mesma andando com as orientações de mobilidade. A experiência não pode ser generalizada, mas pode servir de base para futuras práticas com situações semelhantes.
Os alunos possuem características físicas, sociais e cognoscitivas, limitações e possibilidades únicas, diversas e diferentes, as quais a escola precisa considerar na construção de sua proposta pedagógica e curricular. O CFN busca identificar as necessidades de cada aluno e desenvolvê-las de forma específica, proporcionando aprendizados significativos e necessários à vida do estudante, contribuindo para uma educação ética, digna e de qualidade.
REFERÊNCIAS
COLL, César; POZO, Juan Ignacio; SARABIA, Bernabe; VALLS, Enric. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed, 2000.
FERRAN, Karina de et al. Displasia septo-óptica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria (online), vol.68, n.3, p.400-405, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/anp/v68n3/v68n3a14.pdf>. Acesso em 5 fev. 2017.
SUPLINO, Maryse. Currículo Funcional Natural: guia prático para a educação na área do autismo e deficiência mental. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos – Coordenadoria Nacional para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Maceió: Assista, 2005.