Resumo

Com o aumento do número de idosos no Brasil e as consequências da sintomatologia depressiva nesse segmento populacional, o conhecimento da prevalência e o efeito dos mediadores na sua relação com os fatores comportamentais podem contribuir para o entendimento dos mecanismos explicativos da doença. Assim, foram realizadas duas pesquisas distintas: 1) uma revisão sistemática com metanálise para estimar a prevalência de sintomatologia depressiva em idosos brasileiros residentes na comunidade; 2) um estudo transversal de base populacional para: a) identificar a prevalência e os fatores associados à sintomatologia depressiva em idosos; b) avaliar as associações diretas e indiretas da atividade física e do comportamento sedentário com a sintomatologia depressiva em idosos; c) examinar os efeitos hipotéticos da substituição do tempo de sono, comportamento sedentário e atividades físicas moderadas a vigorosas (AFMV) na sintomatologia depressiva em idosos. Para a revisão sistemática, foram pesquisadas as bases de dados eletrônicas Medline (via PubMed), SciELO, Web of Science, Scopus e CINAHL e selecionados estudos com idosos brasileiros que identificaram a prevalência de sintomatologia depressiva. A metanálise foi realizada para estimar a prevalência de sintomatologia depressiva usando um modelo de efeito aleatório. A heterogeneidade dos resultados foi avaliada pelo teste do qui-quadrado (significância em p <0,10), enquanto a magnitude dos efeitos foi quantificada por I2. O segundo estudo foi realizado com 473 idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família e residentes na zona urbana do município de Alcobaça, BA. Os idosos que preencheram os critérios do estudo e deram o seu consentimento para participar, responderam a um questionário estruturado aplicado em forma de entrevista, contendo questões sobre fatores sociodemográficos, de saúde e comportamentais. A sintomatologia depressiva foi avaliada com a versão curta da Escala de Depressão Geriátrica. Para as análises dos dados, foram aplicadas as técnicas Análise de Correspondência Múltipla, Análise de Trajetórias e abordagem de Substituição Isotemporal em modelos de Regressão de Poisson. De acordo com a metanálise, a prevalência estimada de sintomatologia depressiva em idosos brasileiros foi de 21,0% (IC95%: 18,0-25,0; I2=98,3%). Por outro lado, o estudo transversal indicou uma prevalência de 11,8% (IC95%: 9,2-15,1) para sintomatologia depressiva em idosos de Alcobaça, BA. O perfil dos idosos comsintomatologia depressiva foi caracterizado principalmente por aspectos de saúde e comportamentais. A atividade física teve associação indireta com a sintomatologia depressiva, sendo mediada pela autoestima e capacidade funcional. A associação do comportamento sedentário com a sintomatologia depressiva foi mediada pela capacidade funcional e qualidade do sono. Nas análises dos modelos isotemporais, verificou-se que a substituição do tempo despendido sentado pelo mesmo tempo no sono ou AFMV pode trazer benefícios para a sintomatologia depressiva. Quanto maior o tempo substituído, maior o efeito protetor encontrado. A substituição do tempo sentado pela AFMV resultou em maiores reduções da sintomatologia depressiva. Os resultados do presente estudo indicam a necessidade de estratégias de intervenção para reduzir a prevalência de sintomatologia depressiva. Ao considerar intervenções relacionadas à atividade física e à redução do comportamento sedentário em relação aos sintomas depressivos, a capacidade funcional, a autoestima e os fatores do sono devem ser levados em conta como mediadores.

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