Resumo
Este estudo teve por objetivo analisar a realidade da atual formação do trabalhador de Educação Física no Brasil. Tomamos por base o avançado processo de mercadorização da educação física como um dos elementos que impulsionam as ações do sistema CONFEF/CREFs. Este último representando, neste campo do conhecimento, a expressão das novas relações impostas pelo reordenamento do modo de produção capitalista. Para alcançar o objetivo exposto acima destacamos, inicialmente, as disputas e interesses que permearam as origens da educação física no Brasil, mediados pelas concepções de construção de um “novo trabalhador” para um “novo país” em processo de industrialização. Em seguida, recuperamos os primeiros movimentos que desencadearam o debate crítico sobre o papel da educação física no Brasil, nos anos de 1980, avaliando suas possíveis contribuições para os atuais debates e contradições existentes neste campo do conhecimento. Em um segundo momento, destacamos as relações entre a crise estrutural do capital e a reforma políticoadministrativa do Estado brasileiro, vivida no início dos anos de 1990. Apreendemos a repercussão desse processo sobre o projeto de educação nacional e, especificamente, sobre a educação física recuperando o debate da perda de sua centralidade na escola, tendo como pano de fundo a reestruturação do mundo do trabalho. Neste contexto, analisamos as condições favoráveis para a regulamentação da educação física brasileira e a para a criação do sistema CONFEF/CREFs. Em seguida, evidenciamos os reais interesses que movem o sistema CONFEF/CREFs na busca por aliar-se aos projetos de construção de políticas públicas para o esporte, desenvolvidos pelo governo Lula. Por fim, recuperamos o processo de disputas produzido pelos debates acerca das atuais Diretrizes Curriculares dos cursos de educação física, evidenciando o papel do sistema CONFEF/CREFs em tal processo. Nesta direção, investigamos a presença das concepções do sistema CONFEF/CREFs sob as contradições e disputas reais nas instituições de ensino superior. Neste ponto, nos utilizamos de entrevistas semi-estruturadas com diretores e coordenadores responsáveis por quatro instituições de ensino superior, na cidade do Rio de Janeiro. Como resultado deste estudo observamos que, independente das orientações previstas nas atuais Diretrizes Curriculares dos cursos de educação física: 1ª) o sistema CONFEF/CREFs está presente nos espaços universitários, influenciando a teoria e a prática de professores e alunos; 2ª) os campos de intervenção da educação física (dentro e/ou fora da escola) formam-se e respondem a uma mesma matriz teórica. Assim, tais campos são vitais, um ao outro, na medida em que a escola, conduzida pelas expectativas do mercado, assume o papel de educar sob uma concepção de educação física que se identifica com a visão dominante. A escola, sob tal perspectiva, caracteriza-se enquanto local privilegiado para o contínuo processo de produção de consumidores em busca de serviços ligados à promoção da qualidade de vida e prevenção da saúde; serviços estes, cada vez mais, oferecidos exclusivamente pelo mercado. Palavras-chave: educação física, formação humana, políticas públicas.