Resumo
Atividade física, comportamento sedentário e duração do sono compõem os comportamentos de movimento de 24 horas. Os níveis desses comportamentos são preocupantes entre os adolescentes brasileiros e muitos fatores podem influenciá-los, incluindo comportamentos alimentares, uso de substâncias e fatores sociodemográficos como sexo, idade, e nível socioeconômico. As evidências a esse respeito são escassas, pois a maioria dos estudos inclui apenas um ou dois dos comportamentos do movimento das 24 horas. Assim, o objetivo da presente tese de doutorado foi analisar transversalmente os correlatos sociodemográficos e comportamentais de comportamentos de movimento de 24 horas medidos por acelerômetro e autorreferidos em uma amostra de adolescentes brasileiros matriculados no ensino médio integrado à educação técnica. Todos os alunos matriculados do primeiro ao sexto semestre do ensino médio integrados a cursos técnicos de três campi do Instituto Federal de Santa Catarina na mesorregião Grande Florianópolis (Santa Catarina, Brasil) foram convidados a participar em 2019. Os participantes foram convidados após a equipe de pesquisa explicar a justificativa do estudo, e os participantes foram solicitados a fornecer um termo de consentimento assinado pelos responsáveis legais. Os participantes receberam um acelerômetro para usar no punho não dominante por sete dias consecutivos (avaliação de 24 horas). Uma semana depois, os acelerômetros foram recuperados e os alunos foram convidados a responder a um questionário estruturado online usando um smartphone. A duração do sono, comportamento sedentário, atividade física de intensidade leve (AFL), e atividade física moderada a vigorosa (AFMV) foram estimados a partir de acelerometria e sexo, idade, estrutura familiar, status socioeconômico, comportamentos alimentares, comportamentos de tempo de tela, e o uso de substâncias foram autorrelatados pelos alunos. Os volumes diários de cada comportamento de movimento de 24 horas foram estimados, o volume de esportes e não esportes, de cada indicador de tempo de tela, de tempo de tela de lazer, de tempo de tela involuntário e duração do sono, e a adesão às diretrizes de movimento das 24 horas foram usadas para dicotomizar os comportamentos diários (ou seja, =60 minutos por dia de AFMV, =2 horas por dia de tempo de tela recreativa e 9-11 horas por noite de sono). Modelos lineares multiníveis foram ajustados para identificar as associações dos indicadores de comportamento do movimento de 24 horas com ajustes para covariáveis relevantes. Quando os resultados da acelerometria foram analisados, as participantes do sexo feminio dormiram mais, se envolveram em mais AFL e se envolveram em menos comportamento sedentário e AFMV do que os participantes do sexo masculino. Idade foi associada positivamente ao comportamento sedentário. Alimentos não processados foram positivamente relacionados ao AFL, enquanto alimentos processados foram positivamente relacionados ao comportamento sedentário e inversamente relacionados a AFMV. Tempo de tela para estudar foi inversamente relacionado a AFL e AFMV. O tempo de tela relacionado ao trabalho foi inversamente relacionado ao sono e positivamente relacionado ao LPA. Assistir a vídeos foi associado a menor AFL e AFMV. Para o sexo masculino, os videogames foram associados ao aumento do comportamento sedentário e menores AFL e AFMV. Para o sexo feminino, estudar e usar a mídia social foi associado a menor AFL e AFMV. Quando os comportamentos de movimento de 24 horas autorreferidos foram analisados, as participantes do sexo feminino se envolveram em menos atividades físicas autorreferidas, esportes, tempo total de tela e tempo de tela de lazer (vídeos, videogames, e mídia social), mas em um tempo de tela involuntario maior (trabalhar e estudar) do que os participantes do sexo masculinio. A idade associou-se positivamente com comportamento de tela involutário e atividades físicas não-esportivas e involuntária. O nível socioeconômico associou-se positivamente à atividade física total autorrelatada. Os adolescentes que moravam com a mãe praticavam mais esportes do que os que viviam com os dois pais. Alimentos não processados foram positivamente associados à atividade física total e esportes autorrelatados. Alimentos processados foram inversamente associados com atividade física autorreferida e atividade física não esportiva e positivamente associados com tempo total de tela e tempo de tela de lazer. O uso de álcool foi positivamente associado a atividade física autorreferida, e o tabagismo foi negativamente associado à atividade física autorreferida. Nenhuma associação foi observada para a duração do sono. Quanto à adesão às diretrizes de movimento de 24 horas, a proporção de adolescentes atendendo às diretrizes de AFMV, tempo de tela, e duração do sono foi de 25%, 28% e 41%, respectivamente, para dados autorreferidos. A partir de dados do acelerômetro, 7,1% cumpriram as recomendações de duração do sono e 31,7% AFMV. A adesão a todas as três recomendações foi de 3% com autorrelato e 0,2% com dados do acelerômetro. Os participantes do sexo masculino foram mais propensos a atender a recomendação de AFMV, mas não as recomendações de tempo de tela e duração do sono. Foi observada uma relação positiva entre a idade e o cumprimento da recomendação de tempo de tela. Em conclusão, os resultados sugerem que os comportamentos de movimento de 24 horas dos adolescentes são influenciados por diversos fatores sociodemográficos e comportamentais. A relação entre os comportamentos de movimento de 24 horas entre si e com outros fatores pode ser específica por tipo e essa informação pode ser particularmente relevante ao planejar e otimizar estudos, intervenções, políticas, e a prática profissional no futuro.