Resumo

Este memorial crítico-reflexivo teve por objetivo refletir sobre os processos de elaboração do experimento artístico “Um tango em clave”, que foi desenvolvido a partir do encontro entre meu corpo e a clave (objeto de malabarismo), e apresentado em espaços de trânsito da cidade de Porto Alegre. Partindo da prática do tango, permeada pelo diálogo entre os pares, buscou-se uma relação na qual o objeto, a clave, torna-se materialidade pulsante que potencializa um diálogo a dois. Pretendia-se, assim, que a dança surgisse da relação entre esses dois corpos e não da manipulação de um corpo sobre o outro. Para tanto, o estudo encontra ressonância na possibilidade teórica de pensar em corpos não humanos como matérias vibrantes com potencial de provocar relações e movimentos. Dessa forma, esse encontro geraria a perda do eu, o qual seria construído através do movimento dançado. Ao longo dos ensaios e apresentações, realizaram-se registros escritos em caderno de notas, bem como registros fotográficas e videográficos. Eles tecem uma teia em conjunto com a escrita reflexiva e conceitual. Esse material possibilitou analisar a trajetória dessa proposta cênica. Essa pesquisa exploratória buscou contribuir para uma reflexão sobre as propostas de aprendizagem da dança, pois optou por um caminho de construção da relação dançada com o objeto, a partir das percepções cinestésicas do corpo em movimento. Tal procedimento sugere que outras metodologias de relação do corpo com o objeto possam ser desenvolvidas durante o processo de aprendizagem, e que elas podem ser tão eficientes quanto às práticas mais tradicionais de interação e manipulação do objeto.

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