Resumo
Investiga as presenças e ênfases dadas ao tema da saúde na formação inicial em Educação Física. Lança mão do método da cartografia como modus operandi da produção de dados. Tem como principais teorias de base: os estudos no/com o cotidiano, principalmente, a noção de currículo em rede; as propostas de saúde ampliada; a teoria da estruturação. Pelo fato de nem todas essas teorias comporem entre si, operou-se com a noção deleuziana de caixas de ferramentas por meio da qual se operou com cada teoria em momentos específicos conforme o campo ia solicitando. A produção do campo problemático se iniciou com a habitação do cotidiano dos currículos de formação do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo. Em um primeiro momento, foram acessados os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) da licenciatura e do bacharelado. A partir desses documentos, produziram-se análises sobre as narrativas e as disciplinas referentes ao tema da saúde. Também se realizou entrevista semiestruturada com os professores que participaram da construção desses documentos. As primeiras análises apontaram um enfoque sobre o professor. Com isso, foram acessados os currículos vitae e, também, os concursos públicos ofertados nessa área. Ainda foram acessadas as experiências curriculares no cotidiano de duas disciplinas da licenciatura e duas do bacharelado durante um semestre com a produção de diários de campo. Após, realizou-se entrevista semiestruturada com os professores. As análises dos dados apontaram para algumas pistas: 1) as orientações político-epistemológicas dos professores influenciam a conformação das presenças e ênfases dadas ao tema da saúde nos currículos de formação; 2) contudo, essas mesmas orientações não estão soltas no tempo-espaço sendo influenciadas (ao mesmo tempo que influenciam) a estrutura (dualidade da estrutura); 3) a estrutura é composta por programas (REUNI, Pró-Saúde), políticas e a própria pós-graduação que constrangem os currículos de formação criando determinadas condições de possibilidades para o tema da saúde. Mediante essas considerações, chega-se ao clímax da pesquisa quando são observadas cinco presenças e duas ênfases produzidas a partir dos dados. A presença é conceituada como a objetivação (de elementos empíricos) em que se assume o tema da saúde no currículo de formação. As presenças produzidas foram: a disciplinar, a da prática como eixo formador, a mínima (ou embrionária), a curricular (ou das narrativas dos PPCs) e a acadêmica (ou da formação dos professores). Ênfase é entendida como os efeitos gerados por afetos sempre vinculados às presenças. São as ênfases: técnico-cientificista, biofisiológica e biomédica; e a pedagógica, pública e coletiva. As presenças e ênfases apontam para dois caminhos que se produzem para a formação da área. O primeiro, corresponde à hegemonia calcada nas Ciências Naturais e Biológicas que reduz a possibilidade de elencar uma perspectiva ampliada de saúde. O segundo, se vincula à emergência de outros caminhos a partir das Ciências Sociais e Humanas e da Saúde Pública/Coletiva. São observadas potencialidades para traçar outros rumos e políticas de formação na Educação Física para o trato do tema da saúde em variados campos de atuação. O fortalecimento de ênfases vinculadas às Ciências Sociais e Humanas e à Saúde Pública/Coletiva nos currículos de formação são importantes, uma vez que essas perspectivas emergentes têm permitido olhar de outras formas o complexo fenômeno de que trata a Educação Física, que é o movimento corporal humano em sua interface com as práticas corporais. É mister prosseguir nesse caminho, reafirmando políticas de formação que enalteçam o SUS, os contextos, os encontros, as pessoas; enfim, a vida para além de um conceito de saúde restrito ao tema da doença!