Sobre valores implícitos na prática de esportes de aventura na modernidade “o excursionismo e o gosto pela natureza”
Por Gisele Juodinis (Autor).
Resumo
O estudo sobre o turismo hoje pode ser um instrumento para a investigação dos aspectos significativos da sociedade moderna. Podemos perceber o conjunto dos valores que se deixam mostrar a partir da prática dos impulsos turísticos. Os signos que interessam aos indivíduos em suas viagens possuem valor em si (uma questão histórica, a natureza ou o estranho, o diferente, o exótico), onde se busca ler conceitos preestabelecidos. E neste trabalho dirigi meu olhar para esses valores expressados implicitamente no cotidiano da sociedade burguesa dos dias atuais. Mais especificamente, me ative aos aspectos do gosto (diga-se “paixão”) pelos ambientes naturais selvagens verificados em dois grupos excursionistas paulistas pesquisados: o Centro Excursionista Universitário – CEU e a lista virtual de discussões Trekking & Travessias – T&T. Grupos estes que praticam incursões de um ou vários dias no meio natural selvagem, caminhando em montanhas, praias desertas ou cavernas, ou remando em rios, ou pedalando, ou escalando em rocha e acampando, tendo como lema comum uma regra sempre recorrente: “Tire apenas fotografias, deixe apenas suas pegadas, e leve para casa apenas suas memórias”. Um aspecto particular dos grupos excursionistas aqui estudados que exemplifica uma direção do olhar especifico por parte destes grupos é o fato de que basicamente seus praticantes não nomeiam suas incursões pela natureza em seus períodos de “tempo livre” como turísticas. Existe uma certa reivindicação pelo respeito da prática excursionista que se quer ver muito mais pelo lado de engajamento ativo na política de preservação do meio ambiente natural ou também pelo lado do gosto do que é científico ou que exige conhecimento técnico especializado. Percebo a partir de todo esse quadro que, muito além da questão do escapismo do mundo cotidiano urbano e da questão simplesmente hedonista, a busca pela natureza em ambientes selvagens talvez possa ser resultado da contínua reflexão do homem (e, no caso aqui estudado, do homem da sociedade burguesa) em relação ao seu habitat.