Sociedade em Foco #77: Mercantilização do Futebol Avança e Pode Atingir Times Financeiramente Fracos da América do Sul
Por Jose Luiz Portella Pereira (Entrevistado).
Resumo
Propósito comunitário dos clubes tem sido substituído pela mercantilização e, segundo José Luiz Portella, políticas públicas são necessárias para conter situação
O desenvolvimento do futebol acompanha um processo crescente de mercantilização. Um exemplo é a compra, pelo City Futebol Group — grupo ao qual pertencem times como o Manchester City —, de vários clubes de futebol espalhados pelo mundo, em países como Índia, China e Uruguai. Os acionistas desse grupo incluem várias empresas do setor financeiro, como a Abu Dhabi United Group (78%), a China Media Capital (12%) e a americana Silver Lakes (10%).
“Estamos tendo agora, em termos fortes, uma primeira multinacional do futebol e esses clubes têm uma relação entre eles, de venda de jogadores”, explica José Luiz Portella, autor de uma tese sobre o assunto e doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Esse movimento do futebol como atividade lucrativa, segundo ele, não atingirá todos os clubes, mas é “inexorável”. Principalmente nos países da América do Sul, com clubes financeiramente fracos e capazes de gerar jogadores famosos. “[Esses times] vão entrar nisso e vão acabar modificando o espírito do futebol que, na minha opinião, mexe com a paixão.” Para conter esse movimento que caminha para o esvaziamento do sentido comunitário dos clubes, Portella defende a necessidade de políticas públicas: “De cada país e da Fifa, que não faz”, afirma o professor.