Resumo

Desde o final do século XIX o esporte contemporâneo vem se modificando e assumindo uma lógica que, entre outros aspectos, aponta para as estratégias de comercialização e espetacularização. Entre os seus principais disseminadores está o Comitê Olímpico Internacional (COI), não somente pelos Jogos, mas por toda a relação associativa que envolve o movimento olímpico. A problematização que norteou nosso interesse de pesquisa construiu-se a partir do momento em que identificamos a presença dessa lógica também no esporte amador, a partir das relações estabelecidas entre o Serviço Social da Indústria (SESI) e a Confédération Sportive Internationale du Travail (CSIT) entre 1996 e 2011. Como hipótese, acreditamos que tais relações orientaram-se por essa lógica do esporte moderno, fortalecida com a entrada do SESI no campo, de forma que com o passar dos anos o habitus presente na sua estrutura, incorporado em seus agentes, passou a ser predominante, alterou a lógica de funcionamento do campo e motivou as outras instituições filiadas à CSIT a aderirem ao modelo ou afastarem-se da gestão. Nesse processo, tanto o SESI como a CSIT distanciaram-se dos seus conceitos vigentes relacionados às características do esporte amador e estruturados pelo “Sport for All” e passaram a reproduzir as estratégias de mercantilização e espetacularização do esporte profissional. Os objetivos da pesquisa foram analisar como a relação entre o SESI e a CSIT foi orientada por essa lógica do esporte moderno; identificar a concepção de esporte que essas instituições adotam e desenvolvem; verificar a influência dessa relação nas diretrizes e atividades do SESI e da CSIT; descrever o surgimento do Worker Sport Movement; apresentar o conceito “Sport for All”; apresentar o processo de desenvolvimento industrial brasileiro e os desdobramentos das ações de esporte e lazer nesse contexto; e descrever a história das instituições envolvidas (SESI e CSIT). Como referencial teórico metodológico de análise, utilizamos os constructos da Sociologia Reflexiva de Pierre Bourdieu para fazer a leitura do subcampo do esporte para trabalhadores, identificando suas estruturas e agentes, e então analisar as suas relações. Na sequência , realizamos uma aproximação destes com a Sociologia Compreensiva de Max Weber especificamente a partir dos conceitos de "sentido" da ação social e da relação social associativa, nos termos weberianos, apontando indícios de dominação e burocracia. Diante dos documentos históricos e entrevistas analisadas concluímos que as relações entre o SESI e a CSIT, entre 1996 e 2011, orientaram-se pela lógica do esporte moderno, pautada pelo modelo associativo olímpico e contemplando a reprodução das estratégias de espetacularização (aspirando a mercantilização também) do esporte profissional, incidindo, dessa forma, no distanciamento dos seus conceitos vigentes, relacionados às características do esporte amador e estruturados pelo “Sport for All”. Contudo, dada a presença de outras Uniões no subcampo do esporte para trabalhadores e o próprio vínculo do SESI com o campo industrial, concluímos que os conceitos vigentes também se mantém presentes, mesmo que distanciados. Ou seja, novamente referindo-se à Weber e Bourdieu, trata-se, respectivamente, de uma relação social que é orientada por duas ordens vigentes, igualmente legítimas, com uma fluidez que tende mais à uma ou à outra, conforme as disputas no interior do campo. Palavras-chave: SESI. CSIT. Esporte para Trabalhadores. Sport for All. Espetacularização. Bourdieu. Weber.

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