Resumo

Em nosso trabalho partimos do seguinte problema: Quais as relações entre lazer e subjetividade? Como estas são constituídas? Constatada a pouca ocorrência e mesmo os limites dos estudos que abordaram tal relação, identificamos na análise dos estudos do lazer vinculados a tradição marxista a possibilidade de desenvolvimento do tema por assumirem a mútua determinação entre sujeito e objeto. Nesse caso, a subjetividade se apresenta como um componente inseparável dos processos de formação da vida humana. Não há objeto sem sujeito e nem sujeito sem objeto. Ao constituírem uma relação, o indivíduo não pode ser considerado apenas no seu caráter objetivo, determinado pela base econômica, mas em seu processo de autodeterminação. E é nesse processo de autoconstrução que se criam novas formas de objetivação, que possibilitam, por sua vez, novas formas de subjetivação. Sendo assim, a subjetividade não corresponde a um dado natural, imediato ao indivíduo, mas é construída historicamente, atravessada pelas contradições de classe e representa elemento essencial na construção, na transformação, na apreensão e na interpretação cognitiva do real. Diante destas considerações e com o objetivo de aprofundar as relações entre lazer e subjetividade, foram estabelecidos outros eixos de investigação: Como as transformações realizadas na relação tempo livre/tempo de trabalho nas últimas décadas impactaram o modo de ser dos trabalhadores? Considerando o lazer ser a forma predominante de ocupação do tempo livre na contemporaneidade, quais são os seus determinantes? São possíveis trabalho e lazer plenos de sentido sob o modo de produção capitalista? Assumindo a perspectiva da emancipação humana, qual deve ser o lugar do lazer no projeto emancipatório? Como importante elemento nas disputas entre capital e trabalho, reconhecemos no lazer tanto um dos terrenos possíveis de obliteração/inversão da subjetividade exacerbada, quanto possibilidade de questionamento dos limites da “liberdade” e “felicidade” por ele prometidos. A refuncionalização do lazer operada no Brasil durante a década de 1990, no entanto, ao conferir nova vida às concepções subjetivistas pela afirmação do prazer do indivíduo e de sua liberdade de escolha no mercado, opera como simulacro de emancipação do capital. Ciente dos inúmeros limites de nossa pesquisa e de que a produção de um conhecimento verdadeiro sobre o lazer ou qualquer outro complexo é sempre resultado de sucessivas aproximações e do trabalho coletivo, apresentamos nossa modesta contribuição ao debate.

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