Resumo

Introdução: Tradicionalmente, a literatura tem explorado a relação do comportamento sedentário (CS) e das diferentes intensidades da atividade física (AF) com fatores de risco cardiovascular de forma individual e isolada, ignorando a codependência entre estes comportamentos. No entanto, recentes abordagens estatísticas têm permitido considerar as relações integradas entre estes comportamentos e diferentes desfechos em saúde. Apesar do interesse emergente envolvendo essa temática, novas informações sobre exposições recentemente investigadas, tais como a substituição do padrão do comportamento sedentário (PCS) e informações baseadas em estudos prospectivos são necessárias. Objetivo: a) revisar sistematicamente a literatura científica sobre as associações entre as realocações de tempo em CS (e seu padrão) por diferentes intensidades da AF e fatores de risco cardiovascular em crianças e adolescentes; e b) Examinar as possíveis associações entre as realocações das mudanças do volume total e PCS para as diferentes intensidades da AF com as mudanças dos fatores de risco cardiovascular durante a adolescência. Métodos: Para o primeiro objetivo, realizou-se uma busca sistemática na literatura nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Scopus, SPORTDiscus, Web of Science, CINAHL, PsycINFO, Cochrane e EMBASE no mês de abril de 2021. No segundo, foi realizado um estudo observacional de coorte prospectiva com período de acompanhamento médio de 3,2 (± 0,34) anos entre o baseline e follow-up e com a população de adolescentes (idade média no baseline = 11,7±0,5 anos) da rede pública de ensino do município de Londrina/PR. O PCS (volume total e bouts de 1-4 minutos, 15-29 minutos e ≥30 minutos) e a atividade física de intensidade leve (AFL) e moderada a vigorosa (AFMV) foram mensurados por acelerômetros ActiGraph (modelos GT3X e GT3X+). O índice de massa corporal (IMC), calculado com base nas informações de massa corporal e estatura e, a aptidão cardiorrespiratória (ACR) determinada pelo teste de Shuttle Run (SR-20m), foram considerados como fatores de risco cardiovascular. Modelos de regressão multivariada empregando o modelo de substituição isotemporal foram utilizados para analisar as associações entre a substituição de blocos de tempo de 5, 10, 15 e 30 min/dia do PCS para a AFL e AFMV. Todas as análises consideraram a significância em 5%. Resultados: A revisão sistemática incluiu 21 estudos, sendo 17 com delineamento transversal e quatro estudos de coorte prospectiva. De um modo geral, a realocação do CS e do PCS para AFMV foi favoravelmente associada a indicadores de adiposidade, ACR e biomarcadores cardiometabólicos de crianças e adolescentes. Os resultados do artigo original revelaram que a realocação de blocos de 5, 10, 15 e 30 minutos do CS e bouts sedentários médios para AFMV no baseline foi associada à maiores valores de ACR no follow-up. Adicionalmente, aumentos de 5, 10, 15 e 30 minutos de AFMV, ao substituir aumentos de períodos de tempo equivalentes em CS e bouts sedentários curtos, médios e longos foram associados com aumentos significantes nos valores de ACR. Não foram observadas associações significantes entre a substituição isotemporal das mudanças do PCS por AFL ou AFMV e o IMC, bem como entre a substituição de bouts longos e médios por bouts sedentários curtos e os fatores de risco analisados. Conclusão: A realocação do CS para AFMV é associado a melhores indicadores de adiposidade, ACR e biomarcadores cardiometabólicos na população pediátrica. Somado a isso, a substituição do PCS para a AFMV é associada com a melhoria dos níveis de ACR durante a adolescência. Não foram encontrados benefícios da substituição do PCS por AFL e AFMV sobre o IMC e quando substituído os bouts sedentários longos e médios por bouts curtos sobre ACR e IMC em adolescentes.

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