Resumo
Atualmente, nas instituições bancárias brasileiras, encontramos um duplo movimento: de um lado, os banqueiros com poder político e econômico que lhes assegura lucros de bilhões de reais anualmente, em um contexto de liberalização, desregulamentação e privatização do setor; e de outro os trabalhadores, que enfrentam formas cada vez mais intensas de dominação do trabalho e enfraquecimento de suas capacidades de resistências. Somam-se a este cenário, as LER (Lesões por Esforços Repetitivos), terceirizações, precarizações do trabalho, doenças mentais, temor diário pelo desemprego e suicídios. Distante deste quadro de sofrimentos, vêm crescendo na Educação Física as propostas de ginástica laboral (GL), que ao nosso ver, oferecem práticas corporais que apenas compensam a deteriorização orgânica e psíquica dos trabalhadores, não atuando nas determinações que geram estes desgastes. Assim, os objetivos deste estudo foram: i) analisar as condições de vida e saúde de bancários de Florianópolis; ii) analisar os fundamentos que embasam as propostas hegemônicas de ginástica laboral e iii) implantar e avaliar possibilidades alternativas de Educação Física relacionada à saúde que atendam as necessidades da categoria. Para tanto, buscamos aproximações teóricas da Saúde Coletiva/Epidemiologia Crítica com as pedagogias críticas da Educação Física, empregando em campo alguns pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa-ação. Foram analisados documentos do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região, realizadas entrevistas com lideranças sindicais e desenvolvida uma intervenção pedagógica intitulada projeto Educação Física com Saúde para trabalhadores bancários nesta entidade. Os dados coletados foram analisados através da hermenêutica-dialética, nos quais encontramos como expressão das vivências dos alunos o conceito chave participação. Como conclusões, podemos afirmar que a Educação Física, através de suas pedagogias críticas, tem instrumentos que podem contribuir para as lutas sindicais em favor da saúde dos bancários, pois fundamentam-se em princípios de emancipação e esclarecimento para estimular reflexão crítica de suas condições de vida e saúde. E a construção e implantação do projeto Educação Física com Saúde constituiu-se como uma intervenção pedagógica que superou alguns limites identificados nas propostas hegemônicas de GL, pois buscamos atender as necessidades e aspirações da categoria pelo entendimento do seu processo saúde-doença. Na nossa avaliação, a saúde foi um tema gerador de mobilização e participação, pois além de seu forte apelo na sociedade em geral, aproximou os trabalhadores do Sindicato e foi importante para o reconhecimento coletivo dos seus problemas.