Resumo

Introdução: Embora haja fortes evidências mostrando que a atividade física tem um papel essencial no tratamento dos pacientes diabéticos tipo 2, o aconselhamento médico isoladamente tem se mostrado pouco eficaz na promoção desta mudança de comportamento, tão necessária para o controle clínico destes pacientes. Neste sentido, outros possíveis fatores que poderiam influenciar esta resposta têm sido investigados, entre eles os sintomas depressivos e o nível socioeconômico. Entretanto, até o presente momento o papel destes fatores como também do perfil de personalidade no incremento da atividade física ainda não está plenamente estabelecido na literatura. Objetivos: determinar a influência do suporte telefônico como um incentivo à realização de caminhadas em pacientes diabéticos tipo 2 durante seis semanas. Determinar também o papel do perfil de personalidade, das características clínicas, laboratoriais e demográficas, do nível referido de atividade física, da classificação socioeconômica, do nível de qualidade de vida, da presença de sintomas de depressão e de comorbidades nesta resposta. Casuística e Métodos: trata-se de um estudo prospectivo, de desenho quasi-experimental, randomizado, controlado e sem mascaramento. Foram incluídos os pacientes diabéticos tipo 2, maiores de 18 anos de idade, seguidos no Ambulatório de Clínica Geral (ACMG-HC FMUSP) por mais de 1 ano, que não apresentaram limitação física para caminhar, que disponibilizaram um número telefônico para contato e que assinaram do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As variáveis independentes estudadas foram: características clínicas, laboratoriais e demográficas, o perfil de personalidade (Escala de Comrey), a presença de comorbidades (Escala de Charlson), a classificação socioeconômica (instrumento CCEB), a qualidade de vida (questionário FACIT-sp12), os sintomas de depressão (PRIME MD), o nível referido de atividade física (questionário IPAQ) e o estágio comportamental para a prática de atividade física (questionário Prochaska). Os pacientes foram então randomizados em dois grupos. O grupo intervenção recebeu contatos telefônicos padronizados uma vez a cada dez dias por 6 semanas, com intuito de reforçar estratégias para realização de atividade física. Os pacientes do grupo controle receberam um único contato telefônico na primeira semana. O desfecho avaliado foi o incremento na atividade física obtido pela diferença de número de passo entre a sexta e a primeira semana do estudo. A associação entre as variáveis independentes e o incremento da atividade física foi analisada por regressão logística univariada e multivariada. Foram obtidos os odds ratios e os respectivos intervalos de confiança de 95% e os níveis de significância estatística. Em relação à intervenção foram determinados o risco absoluto e relativo, a eficácia e o número necessário para tratar. Resultados: Foram randomizados 54 pacientes e destes, 48 completaram o estudo, sendo que 29 participaram do grupo controle e 19 foram incluídos no grupo intervenção. A glicemia de jejum foi menor (p=0,003) no grupo intervenção e este grupo apresentava também um menor número de comorbidades (p=0,04) comparativamente ao grupo controle. Em relação às demais variáveis estudadas. não observamos diferenças significativas. Na análise por regressão logística multivariada permaneceram como variáveis independentes associadas ao desfecho (incremento do número de passos entre a primeira e a sexta semana) a idade maior de 65 anos (OR:11,4; IC 95%: 1,05-123,5; p=0,04) e o suporte telefônico (OR:8,9; IC 95%: 2,01-39,3; p=0,004). As demais variáveis não permaneceram no modelo final. Com a análise por intenção de tratar observamos que o suporte telefônico apresentou uma eficácia 90%. A redução do risco absoluto foi de 75% e foi necessário fornecer suporte telefônico para três pacientes para que um apresentasse incremento no número de passos entre a primeira e a sexta semana do estudo (NNT=2,7). Conclusão: o suporte telefônico se mostrou uma intervenção eficaz para promover a realização de caminhadas durante 6 semanas em pacientes com DM2, principalmente naqueles com idade superior 65 anos de idade.

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