Resumo

Ainda há um caminho longo a ser explorado cientificamente no tocante ao retrato, entendimento e proposições de ações aos fenômenos do talento esportivo no basquetebol brasileiro. Sendo assim, é importante compreender o comportamento do talento emergindo das interações entre três fatores: indivíduo, tarefa e ambiente. Considerando que o fenômeno do talento esportivo não pode ser observado diretamente e sim a partir de aspectos que possam conduzir sua interpretação, o objetivo geral deste estudo foi: investigar o efeito da idade relativa (EIR) no basquetebol brasileiro e demais fatores associados à progressão da carreira da base ao alto rendimento; e propor uma modelagem do potencial esportivo de jovens basquetebolistas. Para atender ao objetivo geral, foram estabelecidos objetivos específicos na realização de cinco estudos: 1) descrever ao longo do tempo um retrato do EIR no basquetebol brasileiro; 2) compreender melhor a progressão da carreira de jovens basquetebolistas brasileiros e a influência do EIR; 3) conhecer a opinião dos treinadores quanto à importância atribuída aos fatores determinantes do desenvolvimento de jovens basquetebolistas; 4) avaliar a classificação do perfil multidimensional dos atletas e a classificação do potencial esportivo feita pelos treinadores; 5) criar um modelo de identificação de talentos no basquetebol brasileiro. Foram utilizados três grupos amostrais para atender a natureza de cada estudo: 1) 10856 atletas de elite do basquetebol brasileiro que disputaram competições nacionais ao longo de 15 anos – nas categorias sub15, sub17, sub22 e Novo Basquete Brasil (NBB); 2) 94 treinadores de basquetebol com variabilidade destacada quanto ao sexo, faixa etária, região, tempo de experiência, nível competitivo e atuação; 3) 178 jovens atletas de nível regional/estadual dos 12 aos 17 anos, que realizaram uma avaliação holística do potencial esportivo ao longo de dois anos. Os resultados encontrados no estudo 1, dizem que o EIR está presente nos atletas participantes dos campeonatos brasileiros, tendo predominância de nascidos no primeiro quartil. Ao observar esta distribuição ao longo do tempo, há um predomínio dos nascidos no primeiro semestre do ano ao longo de todo o período observado; ou seja, 15 anos de competição. A estatura é considerada como fator determinante nos nascidos no 1o semestre na categoria sub15, mas os atletas mais altos do NBB são nascidos no 2o semestre. No estudo 2, os resultados demonstram que, a busca por uma formação por posições universais; migrar para região sudeste; permanecer no processo de formação ao longo do tempo; participar da última categoria (sub22) de acesso ao NBB; ser alto e não ser selecionado precocemente; são as características que determinam os atletas chegarem ao NBB – e que o EIR está presente ao longo do tempo no basquetebol brasileiro, mas não determina o sucesso na carreira. No estudo 3, os resultados apresentam diferenças significativas entre os fatores determinantes do desenvolvimento do jovem atleta na ordem de importância atribuída; sendo, do mais importante ao menos importante: físico-motor e técnico; antropométrico; tático e psicológico e, por fim, o ambiental. O indicador “posicionamento e tomada de decisão” obteve 82% de importância atribuída extrema. O fator “antropométrico” esteve associado aos pivôs e aos armadores foi atribuída importância a todos os outros fatores. Os treinadores internacionais valorizam o fator antropométrico, em comparação aos treinadores nacionais e regionais. No estudo 4, observou-se que, no grupo de alto potencial, os atletas eram mais velhos cronologicamente; com maior % estatura adulta prevista, maior orientação esportiva competitiva e determinada; maior tamanho corporal; menor somatório de dobras cutâneas e maior desempenho físico-motor. Na comparação com os demais atletas, os basquetebolistas de alto potencial apresentaram maior estatura; maior envergadura; maior comprimento de membros inferiores; maior estatura adulta prevista e maior escore Z do %EAP. Já no estudo 5, criou-se o Gold Score Basketball, um índice híbrido e ponderado para estimativa do potencial esportivo, composto por 26 indicadores objetivos e dois indicadores subjetivos. O modelo classificou 5,1% dos jovens atletas como potencial esportivo de excelência (Gold Score >90). A consistência interna do modelo foi moderada (r = 0,59) e a estabilidade do diagnóstico foi elevada (r = 0,82), após um ano. A validade de construto e a validade de critério foram satisfatórias. Os atletas com maior nível competitivo (62,9 ± 14,4 vs. 50,7±15,6, p<0,001) e que venceram campeonatos estaduais/nacionais (64,3 ± 15,4 vs. 52,1 ± 15,6, p<0,001) apresentaram maior Gold Score. Os estudos sobre o talento esportivo no basquetebol brasileiro ainda apresentam muitas questões a serem investigadas. Observar o desempenho em competições associadas aos aspectos do EIR (especialmente em relação aos agentes sociais envolvidos e à tarefa), progressão na carreira, avaliações multidimensionais e observações dos treinadores, é um caminho importante a ser seguido. O basquetebol brasileiro deveria investir mais em programas de identificação e seleção de talentos, para otimizar as possibilidades de desenvolvimento de jogadores; melhorar a capacitação de treinadores; reorganizar os processos competitivos nas categorias de base e descentralizar as opções de progressão na carreira – propiciando assim, um impacto ainda maior na/da modalidade. Palavras-chave: Talento esportivo. Basquetebol. Idade relativa. Identificação e seleção talentos. Carreira esportiva

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