Resumo

Colocar a noção de ‘talento esportivo’ em pauta nos debates tende a resultar em um rol de argumentações que tangenciam, de um lado, elementos da natureza, de outro, concepções ligadas à cultura ou, por uma terceira via, aborda-se esse objeto por meio da construção de um quadro interpretativo que engloba essas duas dimensões. Nesta pesquisa, o ponto de partida foi colocar o talento esportivo ‘em movimento’, isto é, observá-lo procurando o distanciar de explicações referentes a demarcações biológicas ou socioculturais que encerrariam seus significados. Essa escolha foi construída na medida em que me aproximei da esteira de debates de Bruno Latour, cuja proposta nos ajuda a compreender processos mediados por associações entre humanos e não humanos. Conduzindo-me por essa perspectiva, passei a operar com uma noção de talento ‘em aberto’, procurando acompanhar seus processos de produção e suas concepções que, a partir de então, poderiam se ‘deslocar’ dependo da articulação entre elementos heterogêneos. Esse percurso foi orientado pela seguinte questão: como a ‘noção’ de talento vem sendo produzida, de que maneira se mantém e o que produz a partir de sua consolidação em determinados coletivos ligados à Educação Física? Para ‘seguir’ esse objeto passei a explorar os seus rastros na produção bibliográfica na Educação Física brasileira, entre leis e decretos, dentre projetos governamentais e, no período de outubro de 2015 até dezembro de 2016, no Clube Grêmio Náutico União (GNU), localizado na cidade de Porto Alegre, especificamente, nos treinamentos e competições da Esgrima, Ginástica Artística e Natação Somada a produção do diário de campo, no qual descrevia cada dia vivido no GNU e as leituras em que fui buscando o uso e as mobilizações da ‘noção’ de talento, realizei 16 entrevistas com atletas, treinadores e coordenadores de cada uma dessas modalidades. Nesse processo, fui percebendo que abordar a noção de ‘talento esportivo’ era ter como elemento central um objeto amplo, multifacetado e polissêmico. Sendo assim, estabeleci dois caminhos para segui-lo: o primeiro se refere aos vínculos entre o esporte e o Estado; o segundo está relacionado ao dia a dia do esporte vivido nas modalidades observadas. Por meio da análise do material produzido nesses caminhos formulei um primeiro capítulo em que proponho uma problematização direcionada a ‘poluir’ a noção de talento esportivo, mostrando suas diferentes possibilidades de conexões e os trajetos que percorri para desenvolver esta pesquisa. No segundo capítulo abordo às ‘flutuações’ do talento esportivo nas relações entre esporte e Estado e a sua mobilização que se desloca por entre discursos e protocolos de medidas desenvolvidos em laboratórios. Por fim, detive-me aos relatos de trajetórias em que a noção de ‘talento esportivo’ vai sendo produzida através da atuação de mediadores no processo de formação de atletas de alto rendimento, o que foi descrito no terceiro capítulo. Por meio dessa linha de discussões passei a sustentar que o ‘talento esportivo’ vem sendo coproduzido por um conjunto de conexões heterogêneas que são particularizadas em determinados coletivos, sendo, portanto, um híbrido que passa a agir como um ‘ator’, na produção de ‘novas’ conexões, na medida em que a ‘noção’ vai sendo purificada em argumentos naturalizante

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