Tecendo algumas considerações sobre o IV EnFEFE: Um diálogo com o vivido
Em V EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
É com muita satisfação que participamos da mesa de avaliação de um encontro que, em um momento tão difícil, reuni tantos pares querendo discutir opiniões, impressões, vivências, conceitos, enfim, tantos colegas desta categoria profissional repensando seu cotidiano e suas reflexões sobre o momento educacional e social em que vivemos.
Para falar de avaliação, tema tão complexo, partimos da reflexão que é necessário rediscutir o seu sentido. Trabalhamos, assim, com a ampliação de seu conceito, deixando de lado a quantificação, a hierarquização, etc. para priorizar o entendimento de que o ato de avaliar passa muito mais pela necessidade de compreender. Por isso consideramos importante uma breve retrospectiva dos eventos anteriores, pois tivemos o prazer e a oportunidade de participar de todos. Esperando, que tenhamos o entendimento que nos relembra o Eduardo Galeano: "Recordar: Do latim re-cordis, tornar a passar pelo coração" (In Livro dos Abraços, 1995, Porto Alegre: RS: L&PM, 4ª ed.).
Percebemos que a organização do EnFEFE - composta pelos docentes do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educação Física da UFF - vem peocupando-se em discutir o que está sendo considerado mais urgente pelo conjunto de professores da área. Querendo ressaltar esta perspectiva, mencionamos o que foi realizado nos encontros anteriores:
O I EnFEFE abordou o cotidiano ("Cotidiano do Professor de Educação Física: desafios para a relação teoria-prática") colocando em questão, através de quatro mesas: o professor; o aluno; a escola e; as políticas educacionais.
O II EnFEFE teve como tema central "Rumos da Educação Física Escolar" e contou com três mesas sobre o assunto: os rumos a partir de práticas culturais concretas; a Educação Física na nova LDB e; as idéias e realidades na escola.
O III EnFEFE abordou "Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Educação Física na Escola" em três análises: os PCNs e a educação brasileira; as diretrizes para a Educação Física em relação à realidade brasileira e; algumas interpretações e alternativas de implementação.
O IV EnFEFE elegeu como principal o planejamento ("Planejando a Educação Física Escolar") e as mesas abordaram as questões centrais: as propostas pedagógicas; a organização curricular e; a avaliação.
Neste pequeno histórico, encontramos os princípios que orientam o trabalho da organização: a luta por uma sociedade mais justa e igualitária; o conhecimento da Educação Física relacionado com as concepções de ser humano e de sociedade; a integração entre os que estão no ensino básico e os que estão na universidade preocupados com a produção acadêmica e; o desenvolvimento de uma práxis centrada na realidade da escola.
O EnFEFE se configura num evento de práticas democráticas e favorecedoras aos processos pedagógicos, portando discutir sobre a realização desse encontro, vai para além de pontuar questões de aperfeiçoamento de mecanismos burocráticos e organizacionais. Nesse sentido, optamos por trazer para o foco de nossas análises um paradigma de avaliação no qual "a ética se sobrepõe a técnica" (Barriga, 1982).
Através deste breve painel sobre os temas centrais dos encontros até aqui realizados, percebemos que há uma preocupação com as temáticas que representam relevo e problema na atualidade; apresenta-se como alternativa e contraponto aos eventos com preocupação exclusiva e/ou principalmente a mercadológica; busca, com seriedade, trazer as discussões travadas na academia, por renomados profissionais sem, contudo, excluir os novos pesquisadores. Por isso, pontuar algumas questões que foram tecidas no IV EnFEFE, nos faz partir de uma polifonia proporcionada pelos espaços de construções coletivas criados nesse encontro. Este fato permite que professores de Educação Física, envolvidos nesse contexto, percorram diferentes caminhos, construindo trilhas, seguindo e deixando pistas, movidos por um desejo compartilhado e um objetivo comum de pensar e discutir sobre uma Educação Física inserida no ambiente escolar e comprometida com um projeto de Educação democrático e inclusivo.
A luz dessas reflexões, se estabelecem relações e diálogos entre todos os participantes, reafirmando a cada ano o reconhecimento e a qualidade desse evento que se destaca no campo da Educação Física no Rio de Janeiro e com grande repercussão a nível regional e até nacional.
Para nós, dessa comissão de avaliação, o IV EnFEFE se colocou como um local onde as práticas que constituem o cotidiano dos educadores ganharam visibilidade nas escolhas dos temas, nos critérios de seleção dos temas livres e nas discussões, trazendo como marco a indissociabilidade teoria/prática no planejamento da Educação Física Escolar. Nesse sentido, caracteriza-se como um encontro importante no qual a multiplicidade dos sons emergem das vozes dos atores que constróem e reconstróem cotidianamente, num movimento dinâmico e dialético o fazer/pensar da escola. Sob essa ótica esse evento potencializou uma discussão sobre a heteregeoneidade, incorporando a diferença como uma característica positiva, abrindo possibilidades de mudanças.
Por compreendermos que a lógica que rege o EnFEFE, está pautada num projeto político definido, cujas bases estão na defesa e na luta por uma sociedade mais justa e solidária, entendemos que as palestras e os critérios de seleção dos trabalhos apresentados estavam coerentes com os objetivos propostos pela Comissão Organizadora, e relacionados à temática geral e as respectivas subtemáticas do evento, assim como os debates e as trocas de informações com o público presente.
Assim, querendo colaborar com esta forma de acontecer com que o EnFEFE vem desenvolvendo-se, levantamos algumas inquietações e sugestões para serem analisadas no desdobramento do próximo.
Considerando o crescente número de inscrições e as observações feitas nas fichas de avaliação geral do encontro, acreditamos que caberá a organização reelaborar as questões pertinentes ao tempo e a forma de apresentação dos trabalhos - a possibilidade de apresentar trabalhos no formato de painel pode ser um dos caminhos.
O pensar a relação teoria e prática também na dinâmica do evento - incluir oficinas e/ou mini-cursos podem ser maneiras de não reproduzir os locais e pessoas "que pensam e falam" (como predomina o pensamento sobre as universidades, os congressos, seminários, encontros) dos locais e pessoas "que executam" (como muitos pensam a escola básica, as dinâmicas de grupo, oficinas e mini-cursos).
Concluindo, cabe a nós parabenizar todos os profissionais do Departamento de Educação Física e Desportos da UFF, pela persistência e coragem de realizar um evento que nos encanta, ao mesmo tempo, pela simplicidade e pela capacidade de complexidade e riqueza que se fundamenta para desafiar o cenário político e educacional contemporâneo, rompendo com processos homogêneos e lineares para articular as diferenças em torno da elaboração de um projeto coletivo, implicado com uma Educação Física Escolar crítica e uma escola mais solidária.
A comissão de avaliação
Prof. Ms. Carlos Fernando Ferreira da Cunha
Profa. Martha Lenora Queiroz Copolillo
Profa. Ms. Rosa Malena de Araújo Carvalho