Resumo

Introdução: Estudos recentes têm mostrado que, independente do nível de prática de atividade física, comportamento sedentário mais elevado em jovens apresenta estreita relação com um conjunto de efeitos deletérios para a saúde. Desse modo, ressalta-se a importância de investir na tentativa de minimizar o tempo em que os jovens permanecem diante de dispositivos de tela. Revisões sistemáticas disponibilizadas na literatura reuniram relatos de intervenções já realizadas; porém, com resultados favoráveis bastante discretos. Neste sentido, possivelmente, a identificação de fatores associados ao tempo de tela possa orientar de maneira mais efetiva futuras intervenções visando aumentar as chances de sucesso. Objetivo: Identificar a exposição ao tempo de tela excessivo, mediante o uso de TV e de outros dispositivos de tela (computador, videogame, tablet e smartphones), de uma amostra representativa de escolares do estado do Paraná, Brasil, e estabelecer sua associação com fatores demográficos, comportamentais e antropométricos. Métodos: Os dados são provenientes do Projeto Paraná Saudável, estudo transversal de base escolar que reuniu 17 mil jovens de 4 a 20 anos matriculados em escolas públicas. Foram realizadas medidas antropométricas e aplicado questionário constituído por 50 itens distribuídos em quatro seções: aspectos demográficos, hábitos alimentares, sono e prática de atividade física. Tempo de tela excessivo foi analisado por meio de questões estruturadas sobre assistir TV e usar computador, videogame, tablet e smartphone por ≥ 2 horas/dia em uma semana típica ou usual. Os dados foram tratados estatisticamente mediante análise bivariada e regressão múltipla hierarquizada. Resultados: Proporções similares de moças e rapazes relataram assistir TV (38,2% [36,2–40,2]) e usar computador, videogame, tablet ou smartphone (46,7% [43,8–50,0]) por ≤ 2 horas/dia. A prevalência global de tempo de tela excessivo foi equivalente a 70,4% [68,1–72,9]. Modelo final de regressão múltipla hierarquizada apontou associação significativa entre tempo de tela excessivo e idade (OR=1,92[1,60–2,33]), classe econômica (OR=2,48[1,99–3,17]), escolaridade materna (OR=1,98[1,57–2,68]) e urbanização (OR=2,94[2,41–3,75]). Entre os fatores comportamentais, pratica de atividade física (OR=1,42[1,25–1,85]), consumo de frutas/hortaliças (OR=2,89[2,25–3,70]), consumo de produtos açucarados/refrigerantes (OR=2,07[1,63 – 2,70]) e duração de sono (OR=2,01[1,60–2,62]) permaneceram associados ao tempo de tela > 2 horas/dia. Da mesma forma, os correlatos antropométricos relacionados aos indicadores do estado nutricional – índice de massa corporal (OR=1,81[1,35–2,51]) e do acumulo de gordura abdominal – relação cintura/estatura (OR=2,01[1,62–2,73]) se associaram significativamente ao desfecho. Conclusão: Escolares selecionados no estudo, em geral, apontaram elevada exposição ao tempo de tela, sobretudo aqueles de mais idade, elevada classe econômica familiar, mães mais escolarizadas e residentes em cidades de maior porte populacional. As significativas associações inversas entre tempo de tela excessivo e fatores comportamentais (prática de atividade física, hábitos alimentares saudáveis e duração de sono), conjuntamente com associações direta com indicadores antropométricos (maior acumulo de peso e gordura corporal), sugerem que políticas e intervenções destinadas aos programas de educação em saúde direcionados aos contextos escolar e familiar devam incluir componentes que se concentram na redução do tempo de tela excessivo.

Acessar Arquivo