Resumo

O tempo despendido em comportamento sedentário tem sido cada vez maior em crianças. Estudos têm relacionado o elevado tempo de tela com piores níveis de aptidão física, atividade física e estado de saúde. O comportamento sedentário pode limitar a vivência de tarefas motoras e reduzir os níveis de coordenação motora. O objetivo deste estudo é o de testar a associação entre o tempo de tela e a coordenação motora de crianças. Trata-se de um estudo de base escolar com delineamento transversal em que participaram 1.607 crianças (848 meninas), com idades entre os cinco e 11 anos da cidade de São José dos Pinhais, Paraná́. O tempo de tela foi avaliado por questionário (autorreportado) respondido com auxílio dos responsáveis. As respostas foram categorizadas em: não utilizam dispositivos; atendem às recomendações (utilizam até duas horas por dia); ultrapassam às recomendações (utilizam mais de duas horas por dia). A coordenação motora grossa foi avaliada com a bateria de testes KTK (Körper-Koordinationstest für Kinder) para obtenção do quociente motor. Foram avaliadas variáveis individuais (estatura e massa corporal) e para a aptidão física foram aplicados os testes de resistência cardiorrespiratória (corrida de 6min), forca muscular (preensão e salto horizontal), agilidade e velocidade (corrida vaivém e corrida de 20m) que forneceram o escore global da aptidão. A participação esportiva foi avaliada por meio de questionário. As diferenças no desempenho coordenativo entre os sexos foram testadas com o teste t para amostras independentes, e entre as categorias de tempo de tela com a análise de variância. Modelos de regressão linear foram construídos para testar as associações entre tempo de tela e coordenação motora grossa, com o ajuste para idade, sexo, IMC, níveis de AptF e prática esportiva. As estatísticas foram realizadas no software SPSS versão 27.0, mantendo o nível de significância em 5%. Meninas foram menos coordenadas do que os meninos. Os valores do quociente motor parecem diminuir com a idade, e crianças mais velhas apresentam maior prevalência de problemas coordenativos. Crianças com valores mais elevados de IMC são menos coordenadas (β = 0,09; p < 0,001). Crianças que praticam esporte (β = 0,05; p < 0,001) e as mais aptas (β = 0,47; p < 0,001) são mais coordenadas. Crianças que passam mais tempo utilizando o computador têm menor coordenação motora grossa (β = -0,04; p = 0,014). Não foram encontradas relações entre o tempo de televisão, dispositivos móveis e videogames e a coordenação motora. O uso do computador está inversamente associado com a coordenação motora; desse modo, a diminuição do uso do computador o/ou substituição por atividades físicas pode melhorar os níveis de coordenação motora.

Acessar