Sobre
Crítico de teatro e professor de literatura formado na brilhante geração de Antonio Candido e Paulo Emílio Salles Gomes, Decio de Almeida Prado foi também um grande torcedor e conhecedor de futebol, que acompanha de perto, como se fosse um torcedor comum.
Com uma escrita invejável pela elegância e erudição – que cronista esportivo é capaz de citar uma seleção de craques do escrete literário nacional como Olavo Bilac, Oswald de Andrade, Machado de Assis e Coelho Neto? –, o autor de clássicos de nossa crítica teatral foi testemunha ocular dos primórdios do futebol amador em São Paulo. Seu primeiro alumbramento com o “esporte bretão”, como ele se recorda num dos cinco textos desta deliciosa coletânea, remonta a 1925, quando o Clube Atlético Paulistano – seu time do coração antes da conversão definitiva ao São Paulo Futebol Clube – realizou uma vitoriosa excursão europeia. Mesmo torcendo a milhares de quilômetros de distância, foi para o menino Decio a refutação inconteste da crença então corrente de que os brasileiros éramos e seríamos sempre inferiores aos europeus entre as quatro linhas. Esse primeiro triunfo inesquecível se confundiu com o patriotismo de chuteiras que, entre vitórias e derrotas, glórias e tragédias, marcaria para sempre sua intensa e passional relação com o futebol.
Originalmente publicados entre as décadas de 1960 e 1990, os textos de Tempo (e espaço) no futebol homenageiam com indisfarçada emoção os grandes nomes da era de ouro do esporte. No panteão de deuses boleiros de Almeida Prado, Leônidas da Silva – o genial atacante do São Paulo e artilheiro da Copa de 1938 – possui uma posição especial. Foi o goleador por excelência da geração de jovens torcedores daqueles tempos heroicos do futebol brasileiro, que ainda não havia se firmado entre as maiores potências mundiais do gramado. Depois da tragédia do Maracanazo, em 1950, o autor relembra Didi, Gilmar, Garrincha e Pelé, que vieram para consagrar definitivamente nosso “futebol de poesia”, na célebre definição do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, no imaginário mundial.
No texto que dá título ao livro, o torcedor cede lugar ao analista cerebral. Com seu conhecimento privilegiado do palco teatral, Almeida Prado decompõe o drama do futebol em suas categorias básicas: o tempo, o espaço e sua relação, a velocidade. O autor discute como os noventa minutos regulamentares e os 7 mil metros quadrados do campo, além dos 17 metros quadrados do gol, podem ser esticados e diminuídos à vontade pelos grandes craques, mestres da conjugação entre a agilidade física e a destreza mental.