Resumo

Elevadas prevalências de atividade física (AF) insuficiente observadas em adolescentes de diferentes regiões do mundo podem ser um indicativo de que os níveis de AF nessa população declinou ao longo dos anos. Essa pesquisa teve por objetivo analisar as tendências seculares da AF em adolescentes do ensino médio de Florianópolis dos inquéritos realizados nos anos de 2007 e 2017/2018. Os objetivos específicos foram: sumarizar o conhecimento disponível acerca das tendências seculares da AF em adolescentes nos últimos anos; examinar as tendências seculares da AF suficiente em adolescentes no intervalo de 10 anos e investigar as diferenças por sexo e idade. Essa pesquisa foi realizada em duas etapas (revisão sistemática e estudo de empírico). Para a revisão sistemática, realizou-se uma busca em sete bases de dados científicos e mais de 1600 artigos foram rastreados. Os estudos foram considerados aptos para a síntese se tivessem avaliado a AF (objetivamente ou não) em dois ou mais períodos do tempo, se incluíram amostras representativas, com adolescentes de 10 a 19 anos de idade e com o mesmo grupo de idade analisado entre os períodos. Para o segundo objetivo realizou-se um estudo epidemiológico de delineamento transversal repetido. Para isso, dados de dois inquéritos, usando um procedimento padrão (por exemplo, seleção da amostra, questionários), conduzidos em adolescentes de Florianópolis nos anos de 2007 e 2017/2018 foram comparados. A variável dependente foi a AF, estimada por meio da versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). A AF suficiente foi definida como o acúmulo diário, de pelo menos, 60 minutos diários de AF em intensidades moderada a vigorosa. Variáveis demográficas como sexo, idade e o ano de cada inquérito foram utilizadas no presente estudo. As tendências seculares da AF foram examinadas para os subgrupos sexo e idade, sendo todas as análises realizadas no software estatístico IBM SPSS, à um nível de significância de 5%. Os resultados da revisão sistemática provêm da síntese de 33 estudos que atenderam os critérios de inclusão. Estes, têm retratado principalmente as tendências da AF, baseada no autorrelato, em adolescentes de países de renda alta. Diversos domínios e contextos das AF foram avaliados e tendências de aumento foram observadas em 13 estudos (de 2,9% a 43,5%), de declínio em nove estudos (de -2,5 a -69,5%) e nulas em outros 10 (-12.0% a 14.4%). No estudo de campo observou-se, no geral, tendência de declínio da AF suficiente em 28,1% de 2007 (50,8%; IC95% = 47,1-52,4) para 2017/2018 (36,5%; IC95%= 33,5-39,0). Os rapazes foram mais ativos que as moças nos dois inquéritos. Quando analisadas as tendências por sexo, tanto os rapazes (56,4%; IC95% = 53,5-58,9) quanto as moças de 2007 (47,2%; IC95% = 44,2-49,7) foram significantemente mais ativos que os seus respectivos pares de rapazes (46,7%; IC95% = 43,6-49,3) e moças (25,7%; IC95% = 23,1-28,0) de 2017/2018. Em 2017/2018 as chances de serem fisicamente ativos nos rapazes de 16 e 17 anos e nas moças de 15, 16 e 17 anos de idade foram significativamente menores em relação aos seus respectivos pares de 2007. Apesar de as tendências da AF em adolescentes de diversos países do mundo não caminharem para a mesma direção, em Florianópolis a prevalência da AF suficiente declinou, principalmente nas moças e nos adolescentes de idades específicas. Usando uma medida da AF baseada no autorrelato, igualmente como na maioria dos estudos, essa pesquisa forneceu evidências sobre as tendências seculares da AF suficiente em uma amostra de adolescentes de um país de renda média. Esses resultados poderão subsidiar estratégias direcionadas para manter o engajamento dos adolescentes na AF que ainda realizam e, principalmente, ações específicas para promover AF entre os adolescentes mais vulneráveis a abandonarem a prática regular.

O trabalho não possui divulgação autorizada

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