Resumo
O presente trabalho teve como objetivo compreender a experiência da transição para a aposentadoria em atletas profissionais de diferentes modalidades esportivas. Crianças e jovens enfrentam períodos de transição ao longo da prática esportiva e as orientações recebidas podem auxiliar em seu desenvolvimento. Diversos trabalhos apontam para prejuízos na vida dos atletas na fase da aposentadoria, porém pouco sabemos como vivenciaram o processo de transição. Buscamos compreender, pelo relato de atletas profissionais, a experiência da transição para a aposentadoria; a partir da sua recordação, investigar se houve planejamento para este momento e o que o atleta buscou como apoio. Desejamos produzir informações e reflexões que possam, a partir dos dados coletados, gerar propostas teóricas e intervenções psicológicas para oferecer apoio e suporte a atletas após a parada da atividade esportiva. Trata-se de pesquisa qualitativa, tendo sido realizadas entrevistas abertas, com base na pergunta disparadora: Como foi a sua experiência no período de transição para a aposentadoria? Participaram deste estudo seis ex-atletas profissionais, duas mulheres e quatro homens de diferentes modalidades esportivas, que se aposentaram. Os colaboradores foram indicados por meio de pessoas conhecidas e aceitaram participar. Para a análise compreensiva das narrativas destacamos os trechos mais representativos e organizados em categorias temáticas, que foram surgindo e se estruturando a partir dos relatos, não tendo sido estabelecidas a priori. Compreendemos os relatos como experiências vividas pelos colaboradores, buscando uma aproximação da compreensão do fenômeno da experiência de transição para a aposentadoria de atletas. A análise mostrou que: 1) O processo de transição pode ser útil para que o atleta se organize nas questões práticas e emocionais, preparando-se para a aposentadoria; 2) Os atletas buscam apoio na família, num técnico ou em pessoas próximas; ao procurarem apoio profissional, esperam conseguir orientação prática sobre outra atividade. A maioria não busca apoio profissional para cuidados psicológicos; 3) Por mais preparados que estejam, os atletas vivenciam a aposentadoria como perda, podendo entrar em processo de luto. O acolhimento adequado pode ajudá-los a lidar com o processo de transição e com a aposentadoria. Tendo como base os aspectos observados, foram apresentadas orientações a profissionais da saúde, de educação física e esporte, técnicos, familiares e pessoas próximas dos atletas. Este trabalho pode contribuir com reflexões para técnicos e outros profissionais do esporte, na compreensão dos sentimentos vivenciados neste período e no sentido da importância do planejamento para a aposentadoria como forma de organização emocional. É fundamental envidar esforços a fim de auxiliar atletas aposentados em direção a uma maior comunicação e expressão de sentimentos relacionados à perda por morte simbólica, acreditando que um acolhimento adequado pode ajudá-los a lidar com esse momento e recomeço em outra atividade