Resumo

A presente pesquisa de doutorado teve como objetivo compreender as zonas de ruptura do “corpo-cotidiano” forjadas nas mediações entre o brincar e o brigar, como formas de interação social no universo infantil, em um Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC), situado em Sobradinho – DF. Golpeando, empurrando e esbarrando na escola, as crianças expõem significados sociais que trazem à tona ambiguidades que marcam a relação entre os universos infantis e adultos. Com base nisso, o estudo dispõe de natureza qualitativa e apresenta como aportes teórico-metodológicos as sociologias do cotidiano e da infância. A investigação em campo foi realizada ao longo de sete meses do ano letivo de 2017, com trinta e quatro crianças, sendo dezenove meninas e quinze meninos, com idades entre 9 e 12 anos, organizadas em duas turmas do 4º ano na referida escola. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram a observação participante, entrevistas semiestruturadas e a produção de cinco desenhos temáticos. A análise de dados foi concebida a partir da triangulação entre a literatura, o ponto de vista do pesquisador e o dos sujeitos, convertidos, em alguns momentos do texto, em recortes episódicos. Os registros de campo permitiram a identificação de categorias que compreendem a interpretação das crianças acerca do “corpo-cotidiano”, um corpo simbólico e ritualizado que transpassa tensões, rupturas e idiossincrasias, frutos das interações sociais. Ademais, as impressões apresentadas sugerem que as brincadeiras de lutinha e as brigas são fundadas por dimensões paradoxais do cotidiano infantil, que carregam no seu bojo o conflito enquanto mediador das relações concebidas dentro e fora da escola. Nesse contexto, o lúdico e a violência se mostraram importantes moduladores, uma vez que dispõem de significados que transitam entre as narrativas reais e imaginárias, bem como entre o bater de “verdade” e o bater de “mentirinha”.

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