Torcendo fora do eixo a efervescência das torcidas gays no futebol masculino brasileiro (1977-1989)
Por Lucas Barroso Rego (Autor).
Resumo
O presente artigo visa atualizar o mapeamento das torcidas gays no futebol masculino brasileiro das décadas de 1970 e 1980. O objetivo é ampliar o escopo de pesquisas anteriores, que se concentravam principalmente no eixo Sudeste-Sul e em clubes da elite esportiva. A pesquisa de cunho qualitativo, baseada em estudo de casos múltiplos, analisou jornais e revistas da época para compreender a origem, motivação, desenvolvimento, recepção e influências das agremiações. Foram descobertas mais de 50 facções abertamente homossexuais organizadas em todas as regiões do Brasil. O estudo revela uma atuação mais capilarizada e diversificada desses movimentos do que se supunha, com novas descobertas em estados como Amazonas, Paraná, Bahia e Distrito Federal. Portanto, ao narrar essas experiências, esta pesquisa espera contribuir para o fortalecimento de uma historiografia que valoriza a diversidade no futebol.
Referências
AIRES, Luísa. Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Lisboa: Universidade Aberta, 2011.
ANJOS, Luiza Aguiar dos. De “são bichas mas são nossas” à diversidade da alegria: uma história da torcida Coligay. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano) – Faculdade de Educação Física, Fisioterapia e Dança. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2018.
BANDEIRA, Gustavo Andrada; SEFFNER, Fernando. O que pensam os torcedores do Grêmio sobre a experiência da torcida Coligay. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero, 11., 2017, Florianópolis. Anais eletrônicos. Florianópolis: UFSC, 2017.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1995.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
CONNELL, Raewyn; MESSERSCHMIDT, James. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista Estudos Feministas, v. 21, n. 1, p. 241-282, 2013.
CROC’S. Correio Braziliense, Brasília, n. 6288, 11 jan. 1980, p. 23.
DAMO, Arlei Sander. Futebol e Estética. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 82-91, 2001.
DAMO, Arlei Sander. Coligay – o esplendor recuperado. Ludopédio, 31 ago. 2018.
DE LAURETIS, Teresa. Queer theory. Lesbian and Gay Sexuality: An introduction. Differences. A Journal of Feminist Cultural Studies, v. 3, n. 2, 1991.
DIAS, Luciene Oliveira; GOMES JÚNIOR, Lázaro Moreira. Margaridas e masculinidades no futebol. Periódicus, Salvador, v. 1, n. 13, p. 233-246, maio/ago. 2020.
DUARTE, Orlando; TURETA, João Bosco. Corinthians – O time da fiel. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
ELIAS, Bruna da Costa; LIMA, Vanessa Wendhausen. Revista Placar: análise crítica do discurso sobre a primeira torcida gay organizada do Brasil. Revista Vincci, v. 3, n. 1, p. 45-66, 2018.
ESTEVES, Marta. Ser juiz é tudo. Placar, São Paulo, n. 929, p. 49-51, mar. 1988.
FLORENZANO, José Paulo. “Dictatorship, Re-Democratisation and Brazilian Football in the 1970s and 1980s”. In: FONTES, Paulo; HOLLANDA, Bernardo Buarque de (Orgs). The Country of Football: Politics, Popular Culture, and the Beautiful Game in Brazil. London: Hurst & Company, 2014. p. 147-166.
FONSECA, Divino. Para o que der e vier. Placar. Rio de Janeiro, n. 370, p. 48-50, 27 maio 1977.
FREITAS, Marcel. Do amor grego à paixão nacional: masculinidade homoeroticidade no futebol brasileiro. Revista Digital EFDeportes, v. 8, 2002.
FRY, Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense, 1985.
GERCHMANN, Léo. Coligay: Tricolor e de todas as cores. Porto Alegre: Libretos, 2014.
GUTERMAN, Marcos. Médici e o futebol: a utilização do esporte mais popular do Brasil pelo governo mais brutal do regime militar. Proj. História, São Paulo, n. 1, v. 29, p. 267-279, dez. 2004.
HOLLANDA, Bernardo Buarque de. A festa e a guerra: o jornalismo esportivo e a formação das torcidas organizadas de futebol do Rio de Janeiro. In: Encuentro de la Asociación Latinoamericana de Estudios Socioculturales del Deporte, 1., 2008, Curitiba. Anais eletrônicos [...]. Curitiba: UFPR, 2008.
HOLLANDA, Bernardo Buarque. “O cor-de-rosa: ascensão, hegemonia e queda do Jornal dos Sports entre 1930 e 1980”. In: HOLLANDA, Bernardo Buarque; MELO, Victor Andrade de. O Esporte na Imprensa e a Imprensa Esportiva no Brasil. Rio de Janeiro: FAPERJ/7 LETRAS, 2012, p. 80-106.
HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; CANALE, Vitor dos Santos. Por uma história do associativismo torcedor nos anos 1970: dinâmicas de rivalidade, amizade e emulação na formação da ATOESP – Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 13, n. 34, set./dez. 2021.
JAPIASSU, Moacir. Bombom ataca Bornay. Jornal da República. São Paulo, n. 46, 18 out. 1979, p. 16.
JOGO proibido: torcidas gay querem um lugar nos estádios. Veja, São Paulo, n. 581, 24 out. 1979, p. 88.
LIMA FILHO, Edson. Os polivalentes da arquibancada. Placar. Rio de Janeiro, n. 400, p. 51, 23 dez. 1977.
LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
LUCA, Tania Regina de. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-153.
MAGALHÃES, Lívia Gonçalves. Futebol em tempos de ditadura civil-militar. In: XXVI Simpósio Nacional de História, 2011, São Paulo. Anais do XXVI Simpósio Nacional da Associação Nacional de História. São Paulo: ANPUH-SP, 2011.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. O circuito dos jovens urbanos. Tempo social, v. 17, n. 2, São Paulo, nov. 2005.
MANDELLI, Mariana Carolina. Corpos, identidades e amizades: práticas torcedoras de mulheres transgêneras no futebol de homens. FuLiA/UFMG [Revista sobre Futebol, Linguagem, Artes e outros Esportes], v. 8, n. 3, p. 155–175, 2023.
MARTINS, Gabriel Sulino. Violência no futebol: uma análise da práxis do torcer. Revista Caliandra, Goiania, v. 3, n. 2, p. 167-175, 2024.
MARTINS, Mariana Zuaneti; REIS, Heloisa Helena Baldy dos. Cidadania e direitos dos jogadores de futebol na Democracia Corinthiana. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, p. 429-440, 2014.
NASCIMENTO, Marcus Jary. Futebol, sociabilidade e psicologia das massas: ritos e símbolos e violência nas ruas de Goiânia. Pensar a prática, v. 10, n. 1, p. 99-116, 2007.
MURAD, Maurício. A violência no futebol: novas pesquisas, novas ideias, novas propostas. São Paulo: Benvirá, 2017.
PARA o que der e vier. Direção de Pedro Guindani. Porto Alegre/RS: Lockheart Filmes, 2016. On-line (26 min.), widescreen, color.
PINHEIRO, Caio Lucas Morais. Sociabilidades torcedoras: uma análise da forma de torcer em Fortaleza nos anos 1960 e 1970. In: Encontro Estadual de História - ANPUH Ceará, 14., 2014, Limoeiro do Norte. Anais do XIV Encontro Estadual de História. Fortaleza: UECE, 2014.
PINTO, Maurício Rodrigues. A “praga” da FlaGay e o “desbunde” guei no futebol brasileiro. Rebeh - Revista Brasileira de Estudos da Homocultura, v. 1, n. 4, p. 102-123, 2018.
PINTO, Maurício Rodrigues; ALMEIDA, Marco Bettine. As torcidas queers em campo: a emergência de grupos que questionam a homofobia e o machismo no futebol. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 105-116, ago. 2014.
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Queer nos trópicos. Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar, v. 2, n. 2, p. 371-394, jul.-dez. 2012.
RICH, Adrienne. “Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence”. In: ABELOVE, Henry; BARALE, Michele; HALPERIN, David (Orgs.). The Lesbian Studies and Gay Studies. Nova York: Routledge, 1993. p. 227-254.
RIDENTI, Marcelo Siqueira. 1968 Cinquentão: Rebeldia e Integração. Revista ECO-Pós, v. 21, n. 1, p. 10-29, 2018.
ROLLEMBERG, Denise. “A ditadura militar em tempo de radicalização e barbárie (1968–1974)”. In: MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes (Org.). Democracia e ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006.
ROSOSTOLATO, Breno. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, Rio de Janeiro, v. 29, n. 1, p. 57-70, 2018.
SALVINI, Leila; JÚNIOR, Marchi Wanderley. O futebol de Marta na Revista Placar: recortes de uma história. Espaço Plural, v. 14, n. 29, p. 298-313, 2013.
SANTOS, Giordano Bruno Reis dos. “Intelectuais de esquerda e televisão no Brasil dos anos 1970”. In: KUSHNIR, Beatriz (Org.). Maços na Gaveta: reflexões sobre mídia. Niterói: EdUFF, 2009. p. 65-75.
SILVA, Giovana Capucim e. Narrativas sobre o futebol feminino na imprensa paulista: entre a proibição e a regulamentação (1965-1983). Dissertação (Mestrado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
SOUZA, Marcos Alves de. Gênero e raça: a nação construída pelo futebol brasileiro. Cadernos pagu, n. 6/7, p. 109-152, 1996.
SOUZA, Rafael de. “Saindo do Gueto”: o movimento homossexual no Brasil da abertura, 1978–1982. (2013). Dissertação (Mestrado em Sociologia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.