Resumo

Os estudos sobre torcidas de futebol tendem a debruçar seus objetos e interesse na temática da violência envolvendo torcedores organizados. Certo fascínio pela violência no esporte pode estar relacionada ao papel ocupado pela mídia que leva ao “público geral” uma associação quase instantânea e exclusiva de torcida relacionada à criminalidade, “bandidagem”. Como em outros microcosmos da sociedade, nos moldes de Pierre Bourdieu, e como mostram Hollanda e Florenzano (2019), Pimenta (1997), Toledo (1996) entre outros , não cabe e nem seria possível negar a existência da marginalidade. Ainda que os trabalhos reforcem que essa porção “problemática” das torcidas é a menor parte delas, são menores os estudos interessados no outro - massivo - lado. Nesse sentido, o presente trabalho é parte inicial da minha pesquisa de mestrado no PPGAS/Unicamp, que está começando a se desenrolar. Aqui, pretendo realizar uma etnografia “feita em casa” (Strathern, 2014; Damásio, 2022) sobre o Grêmio Recreativo Sociocultural Torcida Fogoró, mais conhecido como Torcida Fogoró ou, ainda, Fogoró, uma torcida do Botafogo de Futebol e Regatas. Tenho por objetivo acompanhar suas formas de torcer e organizar-se, para compreender o que seus integrantes acreditam, defendem, enfim, tem por “ideologia” (termo êmico). A escolha pela Fogoró se dá por ter seu nome mencionado em poucos estudos, não sendo objeto de nenhum trabalho; não ser uma torcida “de briga”, o que possibilita um outro olhar e novos debates sobre torcidas organizadas que fogem da já mencionada centralidade em ser “de briga” ou de outros estereótipos que permeiam esse grupo como um todo. E, por isso mesmo, traz uma voz outra para essa discussão, com outras perguntas e respostas, com outras vivências e alternativas sobre o “ser organizado”.

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