Resumo
Esta dissertação é fruto de uma pesquisa sobre as coletividades torcedoras ao longo do século XX no Brasil e suas relações com a violência nos distintos períodos deste século, momento de afirmação e disseminação do futebol no país. O objetivo desta dissertação é traçar, a partir de uma retomada histórica dos coletivos de torcedores, a gênese de um modelo hegemônico de torcida organizada, fundado pelos Gaviões da Fiel, que influenciou a existência de outras torcidas em São Paulo e pelo Brasil. A partir de marcos das formas coletivas de torcer, como os sócios dos clubes das capitais paulistas e cariocas das primeiras décadas do século, torcidas uniformizadas e organizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro entre as décadas de 1940 e 1960 e o nascimento e disseminação entre os jovens das torcidas organizadas até 1995, ano da tragédia do Pacaembu, enfrentamento entre torcedores de Palmeiras e São Paulo no estádio paulistano, acontecimento marcante nos estudos sobre violência relacionada ao futebol, são observáveis os caminhos de uma lógica e normativa torcedora, fundamentada no clubismo e em outras representações internas e externas ao futebol, caras aos jovens torcedores. Assim, as rivalidades e a violência relacionadas ao futebol são questões que abarcam além do esporte em si, dialogando com as relações de cor e de classe, com os embates entre diferentes grupos dentro das metrópoles, somados à necessidade de exercer socialmente condutas impostas pela masculinidade, bem como o desejo do torcedor de participar enquanto agente ativo do espetáculo do futebol, buscando o reconhecimento e o papel central das torcidas no esporte, seja pela festa ou pela violência. A metodologia e fontes utilizadas foram revisão bibliográfica sobre violência no esporte e torcidas, notícias jornalísticas tratadas enquanto fontes primárias, entrevistas com membros da torcida organizada Gaviões da Fiel, acrescidas de observações de campo nos Gaviões da Fiel e em sua dissidência, o Movimento Rua São Jorge.