Resumo

Refletir sobre questões pertinentes a uma educação do corpo tem se constituído numa busca de diversas áreas do conhecimento. Reconhece-se, hegemonicamente, que um dado conhecimento deve ser tratado na educação corporal, o que recai na idéia de que a atividade física garantiria a promoção da saúde, associada, ingenuamente, à qualidade de vida. Podemos indicar que a educação corporal – sistematizada pelo conhecimento científico – assume, neste contexto, o papel de dar continuidade às normas estabelecidas nas organizações do trabalho, ou seja, aplica as técnicas corporais como forma de amenizar os malefícios causados pelo trabalho, em prol da produtividade. Nosso recorte de pesquisa é a relação entre trabalho e educação corporal mediante a análise da produção do conhecimento sobre Ginástica Laboral (GL). Essa última é subsidiada por uma vasta literatura empresarial moderna que repercute em diferentes áreas do conhecimento, a partir de diferentes perspectivas teóricas, que utilizam técnicas, cada vez mais sofisticadas, com o objetivo específico de produtividade e lucro – extração de mais-valia absoluta e relativa. Essa pesquisa objetivou: Identificar as concepções mais representativas que subsidiam a GL nas tendências da produção do conhecimento no Brasil; Indicar elementos que propiciem a crítica à produção do conhecimento dos diferentes programas de pós-graduação (mediante suas teses e dissertações) sobre o tema da GL, formulando críticas à abordagem conservadora como a crítica elaborada a esta; Verificar quais são os dados que sustentam que há uma relação entre GL e aumento de produtividade. Para identificar as tendências na produção do conhecimento em GL, tanto do campo conservador como do crítico, tomamos como ponto de partida a produção bibliográfica expressa nas teses e dissertações dos diferentes programas de pós-graduação brasileiros, entre os anos de 1987 a 2006. Encontramos um total de trinta e seis pesquisas sobre o tema. Sendo duas teses de doutorado e trinta e quatro dissertações defendidas em diferentes programas de pós-graduação. Analisamos dentre essas vinte e três pesquisas em nossa amostragem – duas teses e vinte e uma dissertações. Verificamos quais desses autores são matriciais nessas pesquisas e como sustentam os argumentos que corroboram a tese que a GL melhora a qualidade de vida e contribui para aumentar a produtividade. A compreensão mais aprofundada dos argumentos centrais que justificam a GL para a grande maioria dos pesquisadores, articulada com a discussão crítica da sociabilidade do capital, nos forneceu os elementos para indagar a produção do conhecimento sobre três eixos: a) o que afirmam os autores sobre a GL, quais são os argumentos centrais, tanto para os que reafirmam sua importância, quanto para os que tecem críticas a ela; b) quais autores dão consistência a estes argumentos (autores matriciais); c) qual a relação com a mais-valia (absoluta e/ou relativa). Assim, para a exposição, agrupamos os resultados dessa discussão nos capítulos organizados da seguinte forma: no primeiro, apresentamos os autores matriciais utilizados na produção bibliográfica sobre GL; no segundo capítulo, utilizamos as contribuições de Karl Marx (O Capital), apresentando os subsídios teóricos para análise da forma social do capital. É a partir desses elementos teóricos é que podemos nos debruçar sobre a produção do conhecimento em GL para entendermos as implicações desta atividade humana no processo de extração da mais valia; no terceiro, expusemos o resultado do levantamento das pesquisas de mestrado e doutorado que tratam da GL, agrupando-as em tendências na produção do conhecimento. Nossas considerações finais indicam a existência de duas tendências na produção do conhecimento, uma, que colabora na sustentação da importância da GL para qualidade de vida no trabalho e como forma de aumentar a produtividade das empresas e outra, que realiza críticas aos modelos/programas de GL. Numa primeira tendência, que inclusive é majoritária, temos uma unanimidade frente à idéia de que a GL contribui para o aumento de produtividade que pode ser justificada junto às empresas para que contratem serviços de GL. Na segunda tendência temos os trabalhos que apresentam alguma forma de crítica as “formas” estabelecidas em que ocorre a GL, a partir de diferentes perspectivas. Ademais destacamos que, primeiro, a GL é um tema de pesquisa nitidamente relacionado com a área de conhecimento Educação Física. Suas proposições emergem de um conceito sobre o que seja saúde e como as práticas corporais podem contribuir no processo de prevenção e melhoria das condições que favoreçam a saúde dos indivíduos. Deste modo, essa aparência multidisciplinar revelou-se em nossa análise como sendo parcial, sendo que a produção do conhecimento pauta-se majoritariamente pelos conhecimentos da ergonomia, da medicina do trabalho, da atividade física e saúde e das teorias da administração. Segundo, encontramos uma insuficiência de dados científicos para sustentar as afirmações que amparam essa proposição – a GL como benéfica, tanto para os trabalhadores, como para as empresas. Primeiramente a dificuldade em se demonstrar que a atividade física, efetivamente, melhora a saúde. É preciso considerar essa questão no mínimo como controversa. Essas pesquisas não comprovam que os programas de GL contribuem para o aumento de produtividade. Nessa última questão temos dois complicadores, o primeiro é sobre que entendimento de produtividade estaria falando estes autores, essa definição tem implicações para podermos distinguir as formas de extração de mais valia, pois nenhuma pesquisa ou livro menciona a diminuição da jornada de trabalho ou refere-se à GL como estratégia de alterar os processos de trabalho enquanto novas técnicas laborativas. Diante do exposto estaríamos nos referindo a um aumento de produção que está relacionado à forma absoluta de mais-valia. O segundo complicador são os dados apresentados nas pesquisas e livros que não nos permitem nem inferir que efetivamente os programas de GL elevam a produção das empresas, pois estas afirmações sustentam-se na percepção das gerências, não havendo nenhum instrumento para aferição, acompanhamento e avaliação por parte delas. Nem mesmo as outras questões como absenteísmo, presenteísmo e diminuição das doenças crônico-degenerativas possuem tratamento científico que comprovem sua diminuição. Isso demonstra a fragilidade dessas afirmações que irão sustentar a importância para as empresas da implantação dos programas de GL. 
 
 

Arquivo