Resumo

O trabalho docente universitário mediado por tecnologias digitais e móveis ganha cada vez mais contornos de atividade ubíqua, com suas paradoxais repercussões que afetam dois elementos comuns a todas as atividades humanas: tempo e espaço. Desbordamentos de fronteiras entre público e privado e a incorporação do modus operandi da reestruturação produtiva nas políticas de regulação e avaliação da pós-graduação brasileira tensionam o trabalho docente sob diferentes aspectos. Com base em investigação realizada com docentes de 48 cursos de doutorado em educação, analisamos as tendências do trabalho ubíquo, em um contexto em que trabalho e educação enfrentam forte ataque das políticas governamentais. As análises sinalizam uma intensificação do caráter multitarefa de trabalhar e da in/extensificação do trabalho para outros tempos e espaços, o que redesenha e compromete o trabalho intelectual dos pesquisadores.

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*Uma versão reduzida deste texto foi apresentada na 38ª Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), em São Luís, em 2017, tendo recebido parecer favorável à publicação na Revista Brasileira de Educação (RBE)

1Em termos gerais, a título de exemplo dos retrocessos no campo social com impacto direto sobre os âmbitos do trabalho e da educação, destacamos as reformas na educação básica, os projetos “Escola sem Partido” colocados em pauta nos estados e municípios, o congelamento de investimentos públicos e a reforma trabalhista realizada de modo fragmentado e escamoteado, com substanciais mudanças nos direitos dos trabalhadores, como o trabalho intermitente e a terceirização indiscriminada para atender às demandas do mercado de trabalho por empregados polivalentes, a uberização do trabalho e o ardil da flexibilidade (Dal Rosso, 2017) e a precarização dos serviços públicos. Especificamente no tocante à pós-graduação stricto sensu, destacam-se sucessivas medidas que resultam na intensificação e na extensificação da jornada de trabalho ou no chamado “produtivismo acadêmico”, que traz como decorrência um “mal-estar na academia” (Trein e Rodrigues, 2010)

2Para manter o anonimato dos depoentes, utilizaremos a letra P seguida de uma sequência numérica (por exemplo: P001) para identificar os(as) participantes da pesquisa em seus depoimentos

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