Resumo
O desempenho motor é influenciado por fatores ambientais, pela especificidade da tarefa e por características do indivíduo. Traços de personalidade são características estáveis do comportamento humano que diferenciam os indivíduos. Dentre os traços de personalidade, extroversão é o traço que caracteriza como extrovertidos aqueles que tendem a ser ativos e gostam de conviver com pessoas, e como introvertidos aqueles que preferem atividades caseiras e tendem à introspecção. Estudos que buscaram explorar a relação entre o traço extroversão e o desempenho motor são ainda escassos e divergentes. Paralelamente, existem evidências na literatura que o nível de atividade física está relacionado ao desempenho em habilidades motoras. Supondo que as variáveis traço de personalidade e atividade física afetam o desempenho em habilidades motoras, o presente estudo tem como objetivo verificar a contribuição das variáveis traço de personalidade extroversão e nível de atividade física no desempenho em habilidades motoras. Este estudo quantitativo e transversal contou com uma amostra intencional, da qual participaram 80 crianças, com idade entre 7 e 10 anos (41 meninos, média = 9,27 anos, DP = 1,19; 39 meninas, média = 8,65, DP = 1,08), estudantes de uma escola municipal de Recife - PE. A variável traço de personalidade extroversão foi medida por meio da Escala de Traço de Personalidade para Crianças; cada criança recebeu uma pontuação a qual a classificava em um dos 3 grupos de extroversão (50% extrovertido, 75% extrovertido e + 75% extrovertido). O nível de atividade física foi medido em minutos, por meio do Physical Activity Checklist Interview. O desempenho motor foi testado por meio do Movement Assessment Battery for Children – Second Edition, que inclui os subtestes: destreza manual, controle de objetos e equilíbrio; a medida de desempenho foi o Escore Padrão (EP), sugerido pelo próprio teste. No plano analítico, foram feitas análises de regressão para o EP em cada um dos subtestes (destreza manual: EPDM, controle de objetos: EPCO, equilíbrio: EPE) e para o Escore Padrão Total (EPT). Na equação de regressão foram incluídas as variáveis traço de personalidade extroversão, nível de atividade física e também o sexo, que tem se mostrado uma variável clássica em estudos sobre habilidades motoras. Para o EPT, os resultados mostraram que o traço extroversão e sexo explicam 16% do comportamento do EPT (R2=0,16); para o EPDM, apenas a variável traço de personalidade foi significativa (R2=0,11); para o EPCO apenas o sexo foi significativo
no modelo (R2=0,16); para EPE nenhuma das variáveis foi significativa para predizer o comportamento das crianças em habilidades de equilíbrio (p=0,115). O traço de personalidade extroversão foi capaz de explicar o desempenho em habilidades de destreza manual, mas não em habilidades motoras grossas. Especula-se que o traço não seja proeminente o suficiente em crianças de segunda infância ao ponto de promover diferenciações no domínio motor grosso. A atividade física não se mostrou significativa em qualquer modelo, o que nos sugere que medidas que possibilitem conhecer não apenas a quantidade, mas também a qualidade das atividades praticadas sejam mais adequadas quando se investiga o comportamento motor de crianças. Por fim, o sexo, apesar de não ser uma variável principal do estudo, mostrou-se significativo para predizer o desempenho em habilidades motoras grossas, conforme descrito na literatura. Em síntese, o traço de personalidade extroversão contribuiu parcialmente e o nível de atividade física não contribuiu para o desfecho desempenho motor.