Treinamento de Força com Restrição de Fluxo Sanguíneo e Treinamento de Força Tradicional: Apoptose de Leucócitos e Estresse Oxidativo Plasmático
Por Fabio Rocha de Lima (Autor), Letícia Torres Ferreira (Autor), Celso Pereira Batista Sousa Filho (Autor), Luis Felipe Tubagi Polito (Autor), Douglas Popp Marin (Autor), Marcelo Luis Marquezi (Autor), Rosemari Otton (Autor).
Em 40º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte SIMPOCE
Resumo
Introdução: O treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo tem sido apontado atualmente como um método eficaz para o aumento de hipertrofia muscular, diminuição da atrofia em condições clínicas, chegando até mesmo a ser aplicável no alto rendimento. Têm sido demonstrado que a ativação e a oxigenação muscular, estão relacionados com a pressão aplicada na braçadeira, o que poderia ser um dos mecanismos para a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), gerando por sua vez o estresse oxidativo, sendo esse um dos mecanismos responsáveis por induzir a morte celular programada (apoptose). Entretanto, carecem estudos científicos que avaliaram o estresse oxidativo e morte celular em diferentes pressões no treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo. Objetivo: Este estudo tem o objetivo de comparar o efeito agudo do treinamento de força tradicional e o treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo realizada com diferentes pressões na indução de estresse oxidativo plasmático e na apoptose de linfócitos e neutrófilos circulantes. Materiais e métodos: Amostra: Foi utilizada uma amostra de 14 sujeitos do sexo masculino, com idade entre 20-25 anos, com experiência previa de 6 meses no treinamento de força e que não possuíam doenças autoimunes e câncer de todos os tipos. Os sujeitos foram familiarizados com os modelos de treinamento 7 dias antes de serem alocados ao grupo respectivo, que ocorreu de maneira aleatória. Os grupos são: Treinamento de força tradicional (N=5, 23,40±2,07 anos, 49,20±3,89 kg no 1RM) que realizou o exercício a 75% de 1RM; Treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo correspondente a 50% da pressão necessária para a oclusão arterial (N=4, 23,25±2,36 anos, 49,50±5,26 kg no 1RM) e uma intensidade de 20% de 1RM; Treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo correspondente a 100% da pressão necessária para a oclusão arterial (N=5, 23,60±1,95 anos, 54,00±2,83 kg no 1RM) e uma intensidade de 20% de 1RM. Foi analisado um exercício para membros superiores (Rosca direta), com ciclo de repetições de 4 segundos, e 6 séries até a falha concêntrica, com 90 segundos de intervalo entre elas. Determinação da restrição do fluxo sanguíneo: Foi utilizado sonda de Doppler Vascular (DF-7001 VN; MEDPEJ; SÃO PAULO, BRASIL) para determinar a pressão de oclusão arterial em repouso (LAURENTINO et al, 2012). A pressão do manguito durante os protocolos de treino foi determinada como 50% (grupo restrição parcial) e 100% (grupo restrição total) da pressão necessária para restrição do fluxo numa condição de repouso. Experimento para avaliar apoptose: Após a obtenção do sangue (antes e após o exercício), os leucócitos foram separados utilizando-se um gradiente de densidade (1.077) presente no reagente Histopaque (Sigma Chemical Company Saint Louis-EUA). Para avaliar o potencial de membrana mitocondrial (PMM) foi utilizado a rodamina 123 (Rh123) conforme OTTON e CURI (2005). Experimentos para avaliar estresse oxidativo plasmático: Para avaliar o estresse oxidativo plasmático, foi realizada a medida das substâncias reativas ao ácido Tiobarbitúrico (TBARS) conforme descrito por FRAGA et al (1988) e detalhado em MARIN et al, (2013). Os grupamentos tióis contidos na amostra foram detectados pela formação de adutos coloridos pela reação com a solução de 5,5-ditio-bis(ácido 2-nitrobenzoico) (DTNB), e a quantidade de tióis foi calculada usando uma curva padrão de GSH (BITEAU, LABARRE e TOLEDANO, 2003). A dosagem da relação GSH/GSSG seguiu a metodologia descrita por Rahman et al. (2006). Tratamento estatístico: Os resultados estão expressos como média ± erro padrão da média. Os testes de Shapiro-Wilk e Kolmorogov-Smirmov foram utilizados para verificar a normalidade e variância dos dados, respectivamente, admitindo-se um p<0.05. Foi utilizado ANOVA one way e ajustes de Bonferroni como pós-teste. Foram utilizados os softwares estatísticos SPSS/Windows versão 22 (SPSS Inc.Chicago, IL) e GraphPadPrism versão 5.0 para Windows (GraphPad Software, San Diego, CA, USA). Resultados: O grupo sem restrição de fluxo (SR) e restrição total (RT) aumentou a quantidade de TBARS e GSSG presentes no plasma. O conteúdo de tióis e GSH não foram alterados em nenhum dos três grupos. O potencial de membrana mitocondrial de neutrófilos (NØ) reduziu nos três grupos enquanto que o potencial dos linfócitos (LY) reduziu somente no grupo SR. Conclusão: A partir dos resultados apresentados nesse estudo, pode-se constatar o efeito agudo da pressão aplicada no treinamento com restrição de fluxo sanguíneo realizado com diferentes pressões, bem como do treinamento de força tradicional nos parâmetros de estresse oxidativo. Foi visto ainda que os três modelos de treinamento aumentaram a apoptose de neutrófilos circulantes. Entretanto, somente o treinamento sem restrição foi o que aumentou a apoptose de linfócitos após o exercício. A partir desses dados, pode-se sugerir então que a pressão aplicada na braçadeira é uma variável importante para manipular o estresse oxidativo plasmático, e que esse fenômeno pode estar associado com a morte celular programada. Por fim, outros estudos podem ser feitos usando esses métodos de treinos para verificar a relevância do aumento na apoptose de leucócitos no que diz respeito a função imunológica.