Resumo

Este trabalho pretendeu explorar rastros de como se deu a emergência dos chamados Campeonatos de Futebol de Pés Descalços, disputados em meados do século XX na cidade do Rio Grande, litoral sul do Rio Grande do Sul. Sob o aporte teórico- metodológico da História Oral (MEIHY, 2011), entrevistamos três sujeitos (ex- jogadores e ex-dirigentes) identificados com clubes de futebol amador que disputavam aqueles campeonatos entre 1940-1960. Apesar da década de 30 ter conferido grande visibilidade a três clubes profissionais da cidade pelas conquistas de campeonatos estaduais – SC Rio Grande, SC São Paulo e FC Rio-Grandense – o futebol amador envolvia e atraía ainda mais seguidores, pois as agremiações esportivas de bairro estavam ligadas às rotinas dos moradores, os quais passavam o tempo livre nos bares ou nas sedes dos clubes (PEDROSO, 2012). Entre esses locais, o bairro Cidade Nova e, mais precisamente, o complexo esportivo Praça Saraiva, tornou-se um espaço que se consolidou como significativo ponto recreativo da cidade. Segundo os entrevistados, na década de 40, com a transformação da paisagem daquele local em que grandes combros de areia foram substituídos por seis campos de futebol, algumas agremiações do bairro passaram a ocupar a área facultando a si uma espécie de campo-sede e os consequentes usos para torneios. Esta mudança disparou um rearranjo das relações futebolísticas no local, em que a demarcação dos limites dos campos, ao mesmo tempo que demandava a preservação daquele espaço público de prática esportiva na cidade, fazia com que os responsáveis o gerissem conforme critérios particulares. Nestas condições que acontecia o chamado Futebol de Pés Descalços, modalidade disputada por meninos de 12 a 16 anos de idade, dividida nas categorias A e B (12-14 e 15-16), aos domingos de manhã. Eles iniciavam o dia de futebol na Praça Saraiva, já que ficavam encarregados de colocar as traves para os jogos, deixando-as para que os adultos as utilizassem a tarde durante o campeonato amador municipal, algo que alterou a rotina do bairro em termos de divertimento aos finais de semana. Por serem na maioria moradores do próprio bairro, esses meninos criavam identificação com os clubes locais que, por sua vez, aproveitavam para abastecer suas equipes com futuros jogadores dos quadros subsequentes.