Resumo

Atualmente, tendo em vista a consolidação do campo de estudo da história dos esportes e a recente inserção do Brasil no circuito internacional de grandes eventos, intensificaram-se ainda mais as pesquisas acerca do fenômeno esportivo. Ampliaram-se igualmente os temas e abordagens de investigação, na medida em que podem revelar muito sobre as prá- ticas corporais. Sendo assim, a partir do estudo sistemático do futebol brasileiro podemos relacioná-lo a outras esferas da vida social, mesmo aquelas consideradas marginais pela historiografia. A partir do exposto, pretendemos discutir a questão da politização dos megaeventos esportivos no Brasil, entendidos sob um contexto ímpar vivenciado recentemente pela nossa República. À vista disso, nos propomos a demonstrar como é possível a fruição da discussão política em torno do futebol a partir de outros meios, que não exclusivamente os institucionais. Por se tratar de uma história do tempo presente, as possibilidades de fontes documentais e secundárias são plenamente alcançáveis. Para tal, examinaremos os discursos ideológicos construídos pelo jornal Estado de Minas durante a Copa das Confederações (2013) e a Copa do Mundo (2014), simultaneamente enquanto fonte e objeto de pesquisa. Concentramos a nossa análise em uma das cidades-sede dos jogos, Belo Horizonte, entendendo que a região revelou-se definitivamente para o mundo, seja por intermé- dio dos impactantes resultados presenciados dentro dos gramados, como também dos significativos acontecimentos extra-campo. Logo, estudar a forma com que a opinião pública foi conformada pelo "grande jornal dos mineiros" (slogan publicitário do EM) mostra-se fundamental na compreensão da retórica do legado. Assim sendo, utilizaremos sobretudo das reportagens que tratavam de um remodelado discurso ideológico, em seus mais variados aspectos: políticos, econômicos, sociais e culturais. Em especial, destacaremos a famosa receptividade mineira, bem como as implicações geradas pelo incremento do turismo local. Por fim, vale a pena salientar como esses megaeventos esportivos evidenciam as diversas vertentes explicativas das relações de poder em torno do futebol. Nota-se a sua crescente imersão no capitalismo contemporâneo, através da notória mercantilização e militarização dos torneios organizados pela FIFA, entidade supranacional que merece olhares atentos dos pesquisadores acerca da sua interferência no direito às cidades.