Integra

CONFERÊNCIA! Vai começar a conferência. Com nome chique. Com gente chique. Elegante e sincera (nem todos, acho). Chove muito, e centenas de guarda-chuvas se espalham no lado de fora da entrada do saguão onde vai rolar o evento.  Antes que eu possa pensar onde deixar o meu, rapidamente uma aluna da Shanghai University of Sports carrega da minha mão o guarda-chuvas gigante que descolei no hotel,  me dizendo para eu não me preocupar, ela vai guarda-lo e devolve-lo ao final. Tudo aqui é assim: dezenas de estudantes da Universidade trabalhando como voluntários da Conferencia, fazendo que a gente se sinta super a vontade. Jamais aconteceria na Australia. Como são atenciosos e queridxs estes estudantes! Sorrisos  brasileirxs! Uma inesperada confluência cultural com a China se revela através da simpatia delas e deles.. Mocinhas na porta com uniformes bonitos nos indicam nossos lugares, na primeira fila, com as autoridades! Auditório lotado. Com aparelhos de tradução simultânea nas orelhas, parece que estamos na ONU. Começa a cerimonia de abertura. A professora ao meu lado, toda orgulhosa, fala maravilhas dos grupos de dança e acrobacias que se apresentam: “Nossos alunxs”, ela exclama, orgulhosa.  No intervalo das apresentações, voluntarias se aproximam para encher o bule de chá na nossa mesa. Começam os discursos. Primeiro, a fala do presidente da universidade. Não entendi nada porque não consegui ajustar o aparelho da tradução. Agora sim, tudo no canal certo. Vem agora o presidente da Federação de Futebol da China. Depois, o reitor da Universidade de Bangor (Escócia!) que co-organiza a Conferencia e fala muito bem. E começam as palestras academicas. Há muito tempo eu não vinha a uma conferencia tão intrigante e estimulante. Sem muita chatice. Os acadêmicos chineses detonam a politica do governo chinês de impor ao currículo de todas as escolas primarias chinesas duas horas de futebol por semana. Isso mesmo, o presidente da China adora futebol e quer que este vire o esporte nacional...e os chinesinhxs passaram a ter duas horas semanais obrigatórias de treino de futebol nas escolas, além das aulas de educação física regulares. A tradução simultânea não mostra, mas o o corpo e a entonação das vozes dos colegas chineses evidenciam a revolta destes com esta politica imposta de cima pra baixo. Outras falas interessantes se seguem, como a do lendário  James Dorsey, que estuda as relações do jihadismo islâmico  com o futebol...em off, ele me conta que já sofreu alguns atentados a sua vida...Depois, o chefe dos advogados da Confederação Asiática de Futebol nos mostra  o seu trabalho para combater a fabricação de resultados no futebol...Até a minha palestra se mostra bacana...Arrisquei uns termos em chinês e fiz o maior sucesso! No caminho pro almoço, uma caminhadinha de cinco minutos ciceroneada pelos estudantes até  a sala vip do restaurante, meu guarda-chuva reaparece, e um voluntario insiste em carregar a minha mochila, mas eu não deixo. Enquanto escuto as indiscrições sobre os bastidores do futebol asiático e australiano que a pessoa ao meu lado resolveu me contar, eu brigo com os pauzinhos que me deram para levar a comida a boca: será que vai pegar mal pedir garfo e faca?   

28/out/2016