Resumo

Meninas e Futsal - Um estudo sobre questões de gênero na Educação Física da escola e para além de seus muros Carlos Alberto Tenroller O presente estudo, de cunho qualitativo, teve como objetivo analisar os discursos que compõem determinados regimes de verdade sobre a presença-ausência de mulheres/meninas na prática de futsal. Dada a pouca visibilidade feminina como praticante de futsal nos mais variados veículos midiáticos, optou-se por empreender uma garimpagem de elementos – dentro e fora da escola, procurando entender como vem sendo representado o gênero feminino neste âmbito. O referencial teórico está composto pelas produções identificadas com os Estudos Culturais e com os Estudos de Gênero, influenciados por reflexões de Michel Foucault. Como caminhos metodológicos, optou-se por analisar o discurso dos seguintes artefatos culturais: um jornal de grande tiragem da cidade de Canoas, RS, (Diário de Canoas), do qual foram interpretadas imagens e textos veiculados no caderno de esportes; revistas com matérias esportivas sobre o gênero feminino; imagens das capas de livros didáticos de futsal em duas importantes bibliotecas de universidades (ULBRA em Canoas, e UFRGS em Porto Alegre). A decisão de realizar as análises nestes artefatos culturais decorreu do entendimento 7 de que a educação acontece a partir dos mais variados lugares. Além de tais análises, procedeu-se a um estudo em uma escola de ensino fundamental da rede municipal de Canoas, RS, compreendendo observações e anotações de conversas e situações cotidianas, assim como entrevistas gravadas e questionários escritos respondidos por alunos e alunas praticantes de futsal, no decorrer das aulas de Educação Física e durante um torneio deste esporte. As análises indicam que os discursos que circulam nos artefatos culturais bem como nas falas, nos comportamentos e respostas dos alunos – com algumas exceções – reforçam o privilégio do acesso e da prática do futsal ao gênero masculino. Foi recorrente, e aceito como natural por ambos os gêneros, o entendimento de que as meninas são mais fracas e frágeis, não gostam e não sabem jogar futsal, embora, na resposta ao roteiro escrito as meninas manifestassem vontade de praticá-lo. Registrou-se o reforço de binarismos como: medo versus coragem, força versus fragilidade, menina não gosta de jogar futsal versus meninos gostam de jogar futsal. Um olhar menos atento, menos problematizador de professores e professoras para com estas questões de gênero parece que tem, mesmo não intencionalmente, contribuído para construir e manter estas noções antagônicas entre alunas e alunos. Tudo indica que os discursos (imagens e representações) que circulam e chegam aos alunos e alunas têm contribuído para ensinar, subjetivar e manter um regime de verdade hegemônico de que o futsal na Educação Física escolar e para além dos muros da escola, é uma prática pouco indicada para o gênero feminino.

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