Resumo

A dissertação “Uma admirável marcha da esperança. O Caminho da Fé e a corporeidade na peregrinação” surgiu de inquietações pessoais e acadêmicas em relação aos sentidos e significados expressos durante longo percursos de caminhada, sobretudo àquelas de cunho religioso/espiritual, costumeiramente chamadas de peregrinações. O uso da técnica corporal da marcha ressignificada por romeiros e peregrinos, que buscavam no sacrifício corporal o encontro de algo desconhecido, transcendente, momento de elevação do corpo ao espírito, foi a principal motivação para a realização da presente pesquisa. Com esse intento foi possível relacionar anseios pessoais e profissionais, enveredando numa intrínseca relação entre a área de conhecimento e intervenção pedagógica da Educação Física e as contribuições de estudos no campo das Ciências Sociais. O pressuposto norteador partiu da seguinte indagação: a experiência da corporeidade em indivíduos praticantes da peregrinação consiste no redimensionamento da relação com o sagrado cujo significado é a ressignificação do eu? Os objetivos consistiram em (a) entender o sentido-significado da corporeidade em indivíduos praticantes da experiência da caminhada como peregrinação a lugares de devotamento; (b) identificar em que medida durante o exercício da peregrinação os praticantes buscam o reforço à dimensão do sagrado como uma nova síntese do eu. Para tanto, a investigação seguiu uma abordagem de natureza qualitativa, por meio da pesquisa de orientação etnográfica, na qual foi realizada a peregrinação ao “Caminho da Fé”, utilizando-se no trabalho de campo da observação participante, complementada pela entrevista, com roteiro semi-flexível e conversas informais e pela consulta a documentos. O lócus do estudo consistiu no percurso compreendido entre Tambaú/SP e Aparecida/SP, no Vale do Paraíba/SP, denominado de “Caminho da Fé”, correspondente a 428 quilômetros de distância, percorridos em 14 dias. O referencial teórico seguido compreendeu autores das Ciências Sociais e da Educação Física, destacando-se, em razão da abordagem teóricometodológica seguida, Merleau-Ponty (2011), Mauss (1974), Csordas (2008), Steil (2008, 2011) e Turner (2008 e 2013). Os resultados alcançados durante a interpretação das informações obtidas levam-nos a confirmar nosso pressuposto de que na peregrinação, por meio do exercício da corporeidade, os praticantes empreendem processos de interação internos e externos que culminam na ressignificação do sagrado através de uma experiência individual – encontro do eu – o self, o que se constitui em uma nova síntese do eu. 

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