Resumo

Há um conhecido ditado que diz que “o futebol é uma caixinha de surpresas”, sugerindo que o esporte apresenta muitos resultados surpreendentes. Tais resultados seriam, em parte, fruto de fatores aleatórios que teriam influência relativamente grande no futebol. Partindo dessa premissa, o artigo tem como objetivo principal criticar a avaliação de desempenho no futebol baseada unicamente na análise dos resultados das partidas, o que parece acontecer não somente entre torcedores e comentaristas, mas entre corpos diretivos de clubes também. Como objetivo secundário, o trabalho busca mostrar que o componente aleatório nos resultados do futebol é mais relevante do que em outros esportes e, subsidiariamente, procura fornecer de maneira introdutória alternativas que ajudem a melhorar o processo de tomada de decisões no esporte. Para avaliar a relevância do componente aleatório em diferentes esportes foram selecionadas dez temporadas de 7 ligas importantes de futebol, basquete, vôlei e handebol (em diversos países). Analisou-se a ocorrência de resultados surpreendentes (vitórias dos últimos colocados em partidas contra os primeiros) e também a capacidade das casas de apostas de modelar adequadamente os resultados das partidas. O método de análise descritiva dos dados seguiu uma abordagem exploratória, com testes de diferença de médias populacionais para dados não pareados e com variâncias desconhecidas e diferentes, quando adequado. As análises conduzidas mostraram efetivamente uma maior relevância do componente aleatório no futebol em relação a outros esportes, o que faz com que a avaliação de desempenho baseada apenas nos resultados observados seja subótima, pois além do componente sistemático capturado (que isoladamente fornece uma boa medida do desempenho), pode obter-se também uma boa dose de barulho aleatório. Se a avaliação de desempenho baseada unicamente nos resultados é subótima, precisamos procurar maneiras de melhorar o processo de tomada de decisão. Poderíamos começar olhando para a métrica de gols esperados – que, argumentamos, refletiria melhor o desempenho das equipes ao invés dos gols marcados (que efetivamente compõem os resultados, mas que são mais afetados por fatores aleatórios). Poderíamos também procurar os fatores que influenciam criar ou evitar os gols esperados, tentando assim maximizar o componente sistemático na formação dos resultados (ainda que não consigamos eliminar por completo o componente aleatório). Sustentamos, assim, que a avaliação do processo – e não do resultado – deveria passar a ser a maneira de operar de qualquer clube. Pois é possível ter um bom processo, mas uma sequência de maus resultados; assim como é possível ter um processo ruim e uma sequência de bons resultados. Mas, no longo prazo, a maior probabilidade é de que bons processos levem a bons resultados e maus processos, a resultados ruins.

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