Uma resposta de outra pergunta: É a Educação Física a responsável pelo suposto fracasso olímpico?
Integra
"…A história só se repete como tragédia ou como farsa…"
Karl Marx
Temos ouvido na última semana nos veículos de comunicação a abalizada avaliação de gestores e ex-gestores, bem como de dirigentes de entidades de administração do esporte nacional, reiteradas manifestações explicativas do sucesso parcial ou suposto fracasso dos membros da delegação brasileira durante a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Tais assertivas baseiam-se no pensamento simplista e enganoso que evocam responsabilidades de formação de atletas à educação física desenvolvida nas escolas, com ênfase nas públicas. Desconhecem, portanto, que o papel estratégico dessa é estar vinculada ao Projeto Político-Pedagógico de cada uma das unidades de ensino, no processo de formação humana dos milhões de alunos e alunas do nosso vasto país, formação aqui numa perspectiva eminentemente emancipatória!
Premissas que omitem ou negam as trajetórias históricas distintas do Esporte e da Educação Física, a primeira como prática social contemporânea de grande relevância em suas diferentes dimensões, notoriamente aquela vinculada ao espetáculo esportivo, já a segunda tanto como Área acadêmica multidisciplinar, quanto como um componente curricular, problematiza o Esporte como uma das suas possibilidades de intervenção e produção do conhecimento, ao lado do Lazer, da Atividade Física, da Saúde, dos Jogos Populares, da Dança, dentre outras práticas significativas no âmbito da nossa cultura, pedagogicamente relevantes a cada uma das realidades e condições concretas das escolas.
Afirmar que o sucesso parcial ou suposto fracasso esportivo é a equação expressa pela suposta inexistência da educação física nas escolas, associado à ineficácia da gestão dos mais de R$ 650 milhões oriundos dos cofres públicos neste ciclo olímpico, mistura equivocada e maliciosamente questões distintas: é falsa a argumentação que não exista educação física nas escolas, que resiste quase que exclusivamente pelo compromisso dos milhares de Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação. O que inexiste são condições de trabalho, seja pela degradação material ou da própria dignidade humana, aviltadas pelo esvaziamento desta função social!
Boas perguntas provocam respostas que podem elucidar antigos problemas: insistir na tese da hierarquização do esporte, na compreensão piramidal conceitualmente já superada, nos leva a um beco sem saída!
Devemos reconhecer que a Educação Física escolar é e deve estar vinculada ao Sistema Educacional. Já o Esporte, com seu ordenamento interno próprio, deve fazer uma profunda análise de questões como a alternância democrática de poder, na busca da ruptura de um processo histórico personalista no segmento, assim como uma efetiva transparência administrativa, não só da utilização dos recursos, sejam públicos ou privados, mas preponderantemente que se explicite ao conjunto da nação critérios de decisão e de que forma o controle social das ações é desenvolvido!
A Educação Física e o Esporte devem ser expressos como Políticas Públicas associadas aos demais direitos sociais como Saúde, Habitação, Alimentação, Segurança, Trabalho e Cultura, enfim, direitos que ampliem e garantam lutas históricas dos Trabalhadores pela materialização das referidas conquistas por meio de políticas intersetoriais.
Há exatos oito anos, após os Jogos de Sidney, a cantilena era a mesma, como já dizia o velho filósofo alemão do século dezenove…