Integra

A Universidade Estadual de Campinas é uma grande instituição. A apreciação não se baseia nas muitas centenas de hectares que aquela ocupa no campus principal, nos dois campi de Limeira (onde se situam a FT, o COTIL e a FCA) e na Faculdade de Odontologia em Piracicaba. É devida, sobretudo, à energia criadora que nela se sente e respira.

Ali não há apenas uma extensa panóplia de cursos de graduação e pós-graduação ou de centros de pesquisa fundamental e aplicada com notória relevância social e alto padrão de reconhecimento internacional. Basta andar pelo campus para perceber a inexistência de inibições e proibições de pensar o impensado e opinar sobre o reclamado. Não faltam cartazes afirmativos de reivindicações dos estudantes e funcionários, nem anúncios de exposições, simpósios e discussões sobre diversos e candentes assuntos e problemas da realidade nacional e do contexto global. A Instituição não se omite em relação ao caos neoliberal, conforme observei numa clarividente mesa-redonda efetuada no Instituto de Filosofia. E o Conselho Universitário não se coibiu de aprovar, por unanimidade, uma declaração condenatória do genocídio em Gaza.

Na UNICAMP florescem a ciência, a inovação e a tecnologia, de mãos dadas com as artes. Todos os dias se mantém em cena uma instigante agenda cultural. Durante a estadia e sem prejuízo das minhas obrigações, frequentei debates, visitei várias exposições, assisti à ópera ‘Dido e Eneias´ (Orquestra Sinfónica da UNICAMP e Grupo Coral de Campinas), à atuação do Grupo Coral interpretando madrigais da Idade Média Europeia, e à exibição de um documentário acerca de diálogos entre Angola, Brasil e Portugal, no anfiteatro da Associação de Docentes. Ah, esta entidade dispõe de instalações próprias, providas de restaurante e meios de usufruto do tempo livre, tal como sucede com a Associação dos Funcionários! Também se encontra no campus o DEDIC com apoios e ofertas educativas para filhos dos servidores, desde os 6 meses até aos 14 anos de idade. 

Desperta particular atenção o Centro de Convenções, porquanto fervilha de atividades que o preenchem continuamente. E não faltam feiras, nomeadamente a de artesanato realizada por pessoas idosas, pertencentes ao programa UniversIDADE, que acedem aos espaços da instituição, têm cartão dela e podem almoçar no ‘bandejão’.

Apraz-me referir, com exultante contentamento, a íntima ligação ao Desporto, cultivada pela Faculdade de Educação Física. Por exemplo, o proficiente labor desenvolvido pelo DCE, DEFH e DEAFA traduz-se na ascensão do Brasil a potência mundial nas variantes da disciplina de Ginástica e nos ótimos resultados obtidos nos últimos Jogos Paralímpicos.

A Universidade possui uma fundação, a FUNCAMP, responsável pela gestão de inúmeros projetos e por um hotel acolhedor, dotado de restaurante com excelente gastronomia e de uma loja de venda de artigos alusivos à entidade e livros da editora institucional.

Quero ainda destacar algo deveras importante nesta era de ignoração e menoscabo do Outro. Obviamente, na UNICAMP existem conflitos de interesses, divergências de ideias e opções; isso não impede o funcionamento de redes de afetos e cumplicidades.

Talvez alguém deseje perguntar se considero a UNICAMP uma Universidade exemplar e perfeita. Não congrego saber para compreender o alcance da pergunta e para formular a correspondente resposta. Porém sei que a imperfeição é uma dádiva bendita, quando vigora a noção do quanto há e sempre haverá por fazer. Sei igualmente que sobejam as universidades moribundas e escasseiam as vivas. Ora a UNICAMP está viva e cumpre, de feição admirável, as obrigações ínsitas na missão prescrita por Humboldt, o fundador da Universidade da Modernidade. A visão humanista e ‘politécnica’ não constitui exclusivo de ninguém; é compartilhada por engenheiros, economistas, físicos, químicos, filósofos, médicos, linguistas e demais especialidades. Acresce que o Reitor não é nomeado por Conselheiros externos, nem recebe ordens deles e de Curadores emplumados. Enfim, na UNICAMP vive acordado e pujante o Espírito Livre, proclamando que outra não deve ser a chama da Pólis universitária. É assim que a vejo, contemplo e exalto; tenho, pois, enorme orgulho em contar com a amizade de muitos dos insignes autores da obra feita, movidos pelo desafio e sentido do aprimoramento da provocativa imperfeição.

 07.10.2024
Jorge Bento