Resumo
Esta tese de doutorado discute o processo de planejamento e construção de equipamentos esportivos e de lazer públicos em três cidades da América do Sul, entre os anos de 1920 e 1955, período marcado pela massificação do esporte como prática e como espetáculo urbano. Esse processo teve seu início nas primeiras décadas do século XX, quando passou a ser cada vez mais comum a construção de estádios, ginásios, piscinas, clubes esportivos, velódromos, praças de jogos infantis, equipamentos esportivos no interior de conjuntos escolares e universitários, impulsionados tanto pelo poder público quanto pelo setor privado. Ademais, nesse período, foram institucionalizados os eventos esportivos locais e internacionais como parte da oferta de entretenimento urbano. Centrada em diferentes episódios da história urbana e cultural de Montevidéu, Santiago e São Paulo, a tese defende a hipótese de que a urbanização esportiva foi o resultado da ação de uma série de agentes que, conduzidos por ideias e interesses diversos, promoveram a construção de equipamentos esportivos no continente. Mediante a consolidação de interações, práticas, políticas e instituições, esse conjunto de agentes criou o campo social do urbanismo esportivo. É possível afirmar que o urbanismo esportivo foi impulsionado por quatro grandes agendas: o crescimento da indústria esportiva do espetáculo; a incorporação do esporte e da educação física às políticas sanitárias e educacionais; o desenvolvimento de discursos nacionalistas que integraram esporte, fortalecimento dos corpos e patriotismo; e as visões de agentes públicos e privados que conceberam os equipamentos esportivos como parte de operações imobiliárias maiores. Ao longo da tese será demonstrado como a produção desses espaços foi resultado de uma trama tensa de forças em disputa, mobilizada por agendas, práticas e referenciais teóricas diferentes. Procedentes de campos de conhecimento e de ação tão diversos como a política, a educação, a medicina, o jornalismo, a engenharia, a arquitetura e o planejamento urbano, argumento que esses discursos foram fundamentais para definir os equipamentos esportivos como bens públicos socialmente necessários, elaborar políticas públicas de incentivo à sua construção e participar dos debates sobre a localização, a construção e a elaboração de programas de uso desses locais.