Resumo

As práticas referidas por diversos agentes pelo nome de capoeira são um fenômeno de grande difusão na sociedade brasileira. O objetivo deste trabalho é uma compreensão histórica dos valores que orientam os indivíduos autonomeados capoeiras ou capoeiristas. Estes valores foram analisados em quatro contextos históricos diferentes, a saber, na cidade do Rio de Janeiro no século XIX, na cidade de Salvador no início do século XX, na cidade de São Paulo na segunda metade do século XX e na cidade de Londrina no final do século XX e início do século XXI. Do ponto de vista teórico metodológico, estes valores são analisados na sua relação com os campos sociais dominantes e subalternos por onde transitam os capoeiristas. Os dados do trabalho foram construídos a partir de pesquisa bibliográfica sobre o tema da capoeira no Brasil e, nas análises referentes à cidade de Londrina, a partir de entrevistas semi-estruturadas com capoeiristas da cidade e observação participativa. Conclui-se que os capoeiristas pautam-se em um conjunto de valores variáveis segundo o contexto e que são a reelaboração dos valores vigentes nas famílias patriarcais, em algumas sociedades coloniais da África Centro-Ocidental, no campo esportivo e no campo artístico. Os valores mais recorrentes e mais reatualizados são denominados “valores da valentia”, isto é, uma crença baseada numa visão de mundo religiosa que supõe as técnicas marciais da capoeira como dons divinos. No contexto das grandes metrópoles brasileiras estes valores foram reinterpretados e deram origem à “estrutura de linhagem” que organiza as relações entre os capoeiristas em diversos lugares.

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