Resumo

O processo de miscigenação recente entre diferentes populações ancestrais pode levar a obtenção de resultados espúrios em estudos de associação genética. A estratificação pela classificação de cor de pele é uma ferramenta útil para controle de estrutura populacional, mas, para a população brasileira, alguns estudos demonstraram que este método de estratificação por classificação de cor de pele não é uma estratégia funcional, pois há uma dissociação entre a cor de pele autorrelatada e a ancestralidade genômica. No primeiro capítulo desta pesquisa, foram reportados resultados de um estudo em um grupo de irmãs germanas brasileiras, no qual a pigmentação de pele constitutiva foi mensurada utilizando-se um refratômetro, a ancestralidade genômica foi estimada pela genotipagem de 21 marcadores informativos de ancestralidade (AIMs) e a cor de pele autorrelatada foi avaliada de acordo com classificação adotada pelo censo demográfico brasileiro em cada participante. Foi explorada a associação entre cor de pele e pigmentação constitutiva, cor de pele e ancestralidade genômica, e pigmentação constitutiva e ancestralidade genômica, sendo observado que, apesar de haver diferenças significativas da ancestralidade genômica e da pigmentação entre as três classificações de cor de pele, há uma considerável dispersão dentro de cada grupo e uma grande sobreposição destas variáveis entre os grupos. Foi também observado que não houve uma boa concordância para as três categorias de cor de pele nos pares de irmãs e que o nível socioeconômico associou-se significativamente com a cor de pele autorrelatada e com a ancestralidade genômica. Adicionalmente, foi observada forte associação entre o rs1426654 (localizado no gene SLC24A5 e presente no painel de AIMs utilizado) e a pigmentação de pele constitutiva na presente amostra. Sendo assim, o primeiro capítulo mostrou que classificações subjetivas baseadas na cor de pele autorrelatada são inadequadas para descrever a estrutura populacional presente em populações recentemente miscigenadas. O segundo capítulo reporta a investigação do pico de potência aeróbia (VO2pico), mensurado por ergoespirometria em um teste incremental, com 12 SNPs do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA) em mulheres idosas posmenopausadas, ajustando-se a análise para idade, percentual de gordura e massa livre de gordura, mensuradas por absortometria de raios X de dupla energia. Apesar da não observação de associações estatisticamente significativas após correção para comparações múltiplas pelo índice de falsas descobertas (FDR, do inglês false discovery rate), foram detectadas tendências de associações para os fenótipos cardiovasculares na análise de cada marcador genético individualmente. Também foram observadas tendências de associação na análise de efeitos epistáticos entre combinações genotípicas de 3 SNPs com o VO2pico e com o componente principal calculado a partir do teste cardiorrespiratório. Em síntese, apesar das dificuldades em explicar a herdabilidade para fenótipos complexos atualmente demostrada pelos estudos de genoma total, o segundo capítulo desta pesquisa assinalou algumas possíveis contribuições genéticas do SRAA para a capacidade cardiovascular.

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