Resumo

O objetivo desse estudo foi investigar o papel da variabilidade do movimento no processo adaptativo em aprendizagem motora em função de diferentes níveis de estabilização. Três questões foram investigadas: 1) a variabilidade observada em diferentes estados do sistema (antes e após a estabilização) é de natureza distinta? 2) após a estabilização, ocorre um aumento da flutuação da variabilidade? 3) a variabilidade que permanece após a estabilização caracteriza uma flexibilidade que permite adaptação à novas exigências? Três experimentos constituídos de duas fases (estabilização e adaptação) foram realizados. No primeiro experimento, 90 sujeitos adultos praticaram uma tarefa de arremesso de dardo de salão distribuídos em três grupos – pré-estabilização (GP), estabilização (GE) e super-estabilização (GS). Em cada grupo os sujeitos foram divididos conforme a variabilidade de desempenho no último bloco de tentativas da fase de estabilização, resultando em subgrupos de baixa, média e alta variabilidade. Os resultados mostraram que a variabilidade observada em diferentes estados do sistema não é de natureza distinta, que não ocorre um aumento da flutuação da variabilidade e que a variabilidade que permanece após a estabilização não caracteriza flexibilidade do sistema. No segundo experimento, 90 sujeitos adultos realizaram uma tarefa de timing coincidente envolvendo uma seqüência de movimentos seguindo um delineamento semelhante ao do primeiro experimento. Os resultados mostraram que a variabilidade de movimento relacionada a macro (timing relativo) e microestrutura do programa de ação (tempo total de movimento) tem um efeito distinto em diferentes estados do sistema. Mostraram também que a alta variabilidade relacionada a macroestrutura como a microestrutura são prejudiciais para a adaptação. No terceiro experimento participaram 90 sujeitos adultos seguiram o mesmo delineamento do experimento dois, porém envolvendo na adaptação, além do aumento na velocidade do estímulo (experimento 2), uma alteração na configuração espacial nas chaves de resposta. Os resultados mostraram que a variabilidade do sistema e que a variabilidade relacionada a macroestrutura deve ser reduzida na fase de estabilização. Os resultados mostraram também que a variabilidade relacionada a microestrutura não interferiu no desempenho sendo, de certa forma, benéfica para a adaptação. No seu conjunto, os resultados sugerem: a) que a variabilidade pode ter um papel diferenciado conforme o estado de organização do sistema; b) que há um aumento da amplitude da variabilidade após a estabilização; c) que a variabilidade pode ter um papel facilitador na adaptação. Porém, considerando-se que a especificidade da tarefa é um importante favor na aprendizagem motora, novos estudos com a utilização de diferentes tarefas são necessários para a conclusões mais sólidas.

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