Integra

Mário Quintana tem uma frase lapidar que diz que “a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”. Em tempos de fake news e desentendimentos, observo a dificuldade em usar adequadamente as palavras para expressar pensamentos sem que haja distorções e interpretações inadequadas. A expropriação do conhecimento por despreparados, ou mal intencionados, leva os ignorantes a se perderem como náufragos no oceano, buscando se agarrar a qualquer coisa que flutue. Tomo aqui os ignorantes como toda pessoa que se encontra vulnerável à uma informação, seja pelo desconhecimento, ou pela falta de cultura, estudo, experiência ou prática. Tento assim não agredir, ofender, destratar ou afrontar a quem quer que seja.

Digo isso para afirmar a necessidade de se ler os acontecimentos para além de como eles se nos apresentam.

Dias atrás Contardo Caligaris questionou em sua coluna a razão de se esconder fatos relacionados ao tratamento prescrito aos pacientes acometidos do covid-19. 

Em outro texto li sobre o silêncio das autoridades iranianas sobre a pandemia e o esforço necessário feito pela população para compreender a intensão do silêncio e não necessariamente às instruções dadas para agir diante da doença.

Vejo ainda como alguns seres ignaros usam de sua posição de poder para prescrever drogas sem efeito reconhecido pelos métodos científicos para sanar não uma pandemia, mas os males provocados pela incapacidade de lidar com o desconhecido que leva à morte.

Enfim, na semana em que se celebrou do dia do jornalista, é tempo de confirmar que a comunicação pode ser a linha por onde corre um trem veloz ou um fio que enrola e imobiliza uma verdade, ainda que temporária.

No mundo esportivo ainda se sente o impacto da suspenção, adiamento e cancelamento de competições. Dos campeonatos regionais aos Jogos Olímpicos tudo parou para preservar atletas e público, provando a condição social desse fenômeno que é mais do que um embate entre pessoas habilidosas. 

Humano, acima de tudo, ele transita pelas mesmas vias que outras atividades. O medo, o desejo, os jogos de poder e as demandas por visibilidade estão presentes em cada ação nesse campo que tanto se parece com um tabuleiro de xadrez. O movimento de cada peça, do peão à rainha, cuja finalidade é defender um rei, independentemente de qual seja o time, tem desdobramentos sobre as ações do jogo como um todo.

O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio foi postergado até que alguns dirigentes se manifestassem por um boicote. Todos os que seguiam a progressão da pandemia sabiam que o adiamento, ou cancelamento, seria inevitável. Enquanto isso, o Japão se fazia parecer pouco abalado pelo vírus e suas consequências. 

A demora em admitir a pandemia local parece agora cobrar o seu preço. Ao que tudo indica o vírus é mesmo um organismo que não respeita nada, nem ninguém. Sorrateiro e invisível a olho nu ele seguiu o mesmo padrão de outros países. E a mesma curva observada nos locais onde não se respeitou o isolamento social começa a se desenhar por lá. 

Se há algo a se aprender com tudo isso é que meias verdades nunca serão a verdade em si. Elas estão muito mais próximas da mentira, que pode resultar em tragédias irreversíveis. Não há evento algum, por mais grandioso que ele possa parecer, que justifique o risco de não se seguir os protocolos já afirmados por método científico. Que líderes e dirigentes possam aprender com essa experiência. A humildade do ignorante pode gerar sabedoria. Torçamos.