Resumo
A relação entre formação humana e participação política é extremamente complexa uma vez que envolve uma série de práticas exercidas sobre os sujeitos que visam o controle da conduta, do comportamento, dos sentimentos, ou seja, da ação humana e do sujeito como um todo. Há um caráter, por assim dizer, notadamente pedagógico nisso, pois tencionam ensinar os sujeitos a como viverem em determinada comunidade política. Atualmente, uma em particular tem sido constantemente propagada como sendo especialmente útil para governar uma camada específica da população: a juventude em situação de risco. O objetivo geral dessa dissertação-ensaio é investigar algumas das relações de poder-saber envolvidas na prática pedagógico-desportiva para disciplinar, normalizar e governar os jovens pobres. O objeto empírico são os discursos midiáticos sobre o papel social do esporte, os quais serão analisados a fim de identificar o que estão veiculando, ou seja, quais idéias, valores, sentidos de realidade e modelos de conduta defendem e afirmam que aquelas práticas podem ensinar. Os objetivos específicos são investigar como os elementos encontrados se relacionam às relações de poder-saber analisadas por Michel Foucault na década de 1970; como e por que o espectro de tecnologias de poder abrangido pela prática pedagógico-desportiva pode lhe tornar especialmente eficiente na formação daquele juventude; qual subjetividade política visa forjar; e sobre qual campo de ação visa intervir. A partir da análise da genealogia do poder desenvolvida por Foucault, identificou-se que aquelas práticas reúnem características tanto do poder disciplinar quanto da governamentalidade biopolítica, tais como definidas pelo pensador francês. Além disso, foram encontrados, através de uma breve análise do liberalismo político, elementos que identificam o esporte com a lógica liberal. Como uma prática análoga ao liberalismo e que congrega diversas tecnologias de poder, o uso pedagógico do esporte tem o objetivo estratégico de formar a noção de sujeito-cidadão, o que denota a concepção de participação política desejada, qual seja, a de obediência e promoção do ordenamento jurídico do Estado democrático, civil e de direito. Por fim, contra essa concepção estreita de subjetividade, foi excogitada uma proposta de ultrapassagem dela que vise o exercício da crítica e da liberdade de resistência.