Resumo

Estudos realizados em diversos países demonstraram que a violência interpessoal (VI) na infância — que abrange violência psicológica, física, sexual e negligência — é um problema disseminado nos esportes de alto rendimento. No entanto, as pesquisas nessa área têm se concentrado, em grande parte, em países do Norte Global, e nenhum estudo de prevalência foi conduzido no esporte brasileiro.

Este estudo examinou a prevalência da VI na infância entre atletas de alto rendimento no Brasil, investigou diferenças de gênero e identificou fatores de risco associados. Um total de 857 atletas brasileiros de alto rendimento respondeu ao questionário sobre suas experiências no esporte antes dos 18 anos de idade. A amostra incluiu 563 mulheres, 290 homens e 4 pessoas que não informaram seu gênero ou que se identificaram como não binárias, fluidas ou queer.

Os resultados indicam que a VI na infância é um problema disseminado, com 93% dos atletas relatando ter vivenciado pelo menos uma forma de violência. A violência psicológica e a negligência foram as mais comuns (91%), seguidas pela violência sexual (63%) e pela violência física (55%). O estudo também mostrou que possuir contrato profissional esportivo após os 18 anos e praticar esporte coletivo foram fatores de risco associados à violência física. Além disso, atletas com contrato profissional tinham maior probabilidade de sofrer violência psicológica no contexto esportivo. Por fim, a prática de paradesporto esteve associada a um menor risco de relato de violência psicológica.

Esses achados ressaltam a necessidade urgente de medidas específicas de proteção e de políticas baseadas em evidências para prevenir a violência interpessoal na infância no esporte brasileiro.

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