Sobre
O jogo de voleibol é constituído por uma sucessão de habilidades que não podem ser consideradas exclusivamente ofensivas ou defensivas. A busca pela obtenção do ponto alterna ações de saque, por exemplo, que podem tanto buscar o ponto como facilitar a movimentação subsequente de bloqueadores e defensores; assim como o bloqueio, dependendo das possibilidades próprias em relação aos adversários, optar por conseguir o ponto imediatamente ou facilitar a defesa dos colegas com um amortecimento providencial decidido no último momento. O desenvolvimento do rali – momento em que a bola está no ar, sem que o ponto ainda tenha sido decidido – mescla constantemente ações defensivas e ofensivas, ora a favor de um ora de outro. Essa alternância, junto com a sistemática repetição dos elementos de jogo, é uma das características do voleibol e algo que não pode ser desprezado numa análise mais detalhada e ampla. A soma e a combinação dessas características tornam complexas e delicadas tanto a coleta de dados quanto sua organização e interpretação.
O técnico que se prende a uma jogada isolada para traçar a análise de toda uma partida, assim como aquele que afirma confiar na memória para guardar ações que ultrapassam a casa do milhar durante uma partida fazem parte do passado. Nenhum cérebro humano pode se privar da parceria de um computador e da análise seletiva proporcionada por planilhas e edições que resumem e agrupam por semelhança as inúmeras sucessões de jogadas de cada atleta e entre os diversos adversários.
A formação de um técnico é semelhante ao processo pelo qual passa um atleta. Da mesma maneira que o jovem jogador não consegue enxergar outras possibilidades que não aquelas com as quais tem mais intimidade, precisando focar sua atenção num ponto específico – geralmente a bola –, o jovem treinador enxerga o jogo de maneira mais simplista. Este, no início, consegue ver apenas a própria equipe, depois passa a enxergar o time adversário, até que consegue visualizar ambos, num embate de dois atores que se alternam como protagonistas.
É neste último estágio que o técnico passa a ser um especialista e inicia sua trajetória mais profícua, estando apto a agir eficientemente diante das múltiplas possibilidades que o jogo de voleibol apresenta. A capacidade de entender a sucessão das ações, de analisá-las correta e racionalmente e ter a iniciativa de transformá-las de modo a facilitar a obtenção do ponto a favor de sua equipe, seja por meio de alterações táticas, substituições ou reformulação de estratégias durante a partida, é o que permite, logicamente além de outras capacidades e valores, a um técnico ingressar no rol daqueles considerados “de alto nível”.
Para este profissional, a importância do scout como elemento colaborativo é inegável. O scout passa a ser mais um assistente a serviço da equipe que, todavia, como qualquer membro do grupo, deve ter todo seu potencial explorado para que dele possa ser extraída sua total capacidade de contribuição.
Ao longo deste livro, discorreremos sobre como esses recursos podem se transformar em ferramentas para treinos individuais e coletivos específicos e pragmáticos e como eles podem auxiliar na escolha por novas estratégias durante os jogos e na preparação para confrontos futuros.