Resumo

No final do século XX, o voleibol de praia foi transformado em um produto mercantil espetacularizado e transmitido pelas redes de televisão em escala global. A partir dessa perspectiva, realizamos uma análise sociológica da constituição do campo mundial do voleibol de praia. A problematização que norteou nosso interesse de pesquisa localiza o voleibol de praia como um esporte “inventado” e/ou derivado do voleibol já que inicialmente migrou dos ginásios para a praia com o objetivo de proporcionar lazer aos seus praticantes. Com o processo conjugado de racionalização-modernização instaurado na sociedade, surgiu a instituição esportiva moderna que reinventou a modalidade, a qual passou a ser gerenciada pela lógica empresarial assumindo características de uma atividade comercial divulgada, principalmente, pela televisão. Nossa hipótese estabelece que o desenvolvimento histórico do voleibol de praia se instaurou como um produto da marca institucionalizada do voleibol, ou seja, o voleibol na praia foi transformado em voleibol de praia. Os objetivos traçados foram analisar o processo de institucionalização do voleibol de praia; descrever a história do voleibol e do voleibol de praia; e analisar as relações estabelecidas entre os agentes e instituições que fazem parte deste campo de concorrências. Em face desse direcionamento, o recorte temporal proposto compreendeu o período de 1983 a 2008. Como referencial teórico metodológico de análise, buscamos na Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu o instrumental capaz de explicitar as relações que se estabelecem no contexto socioeconômico contemporâneo, aplicando-o na leitura e interpretação do desenvolvimento do voleibol de praia. Diante do material histórico analisado, concluímos que as singularidades inerentes ao voleibol de praia são, principalmente, estruturais, a primeira delas é que a modalidade é um produto da marca voleibol, a qual está institucionalizada mundialmente; a segunda apresenta-se na sua origem como um produto comercial estrategicamente reinventado para veicular na televisão. A reinvenção do voleibol de praia está baseada no interesse comercial que foi impulsionado pela televisão e vem sendo determinado pela disputa de duas instituições, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e a Association of Volleyball Professionals (AVP). A luta pelo poder operou estratégias de transformação e a FIVB, detentora de capital específico com atitudes ora de conservação ora de subversão, passou a controlar o campo. O voleibol de praia é um produto concebido pelo pólo dominante do campo, produtores, dirigentes esportivos, redes de televisão, patrocinadores e promotores para movimentar a indústria do entretenimento no sentido da oferta e da demanda.

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