Resumo

O uso da voz pelo professor de educação física guarda peculiaridades restritas ao exercício dessa profissão, tais como a necessidade de comando durante a regência da aula, orientando, corrigindo e incentivando a prática de movimentos corporais em meio à concorrência com as vozes dos próprios alunos, gerada muitas vezes pela agitação da atividade prática. A demanda vocal é intensa em ambientes abertos de grandes dimensões, com dispersão da voz, ou fechados, com grande reverberação de sons, tornando a acústica ruim ou, ainda, em espaços improvisados pouco adequados ao uso intenso da voz. Tais fatores, associados ou não, têm gerado desgastes vocais significativos. O estilo do uso vocal apresentado pela maioria dos professores de educação física tem provavelmente origem histórica, pois a educação física no Brasil teve sua base nas técnicas militares de preparação física, que influenciaram um estilo de voz característico, “a voz de comando”. O uso da voz em alta intensidade é considerado como necessário ao desenvolvimento das práticas pedagógicas atribuídas à educação física escolar como os jogos e brincadeiras, a dança, os esportes, a luta, a ginástica e as práticas de aventura, que exigem movimentação corporal dos alunos, desencadeada e mantida através da voz do professor. Esta pesquisa tem por objetivo compreender e descrever como professores de educação física escolar se comportam na regência de suas aulas, se conhecem e adotam procedimentos de uso e preservação da própria voz e, ainda, como percebem as interações que estabelecem com seus alunos a partir do uso da voz. Fizeram parte desta pesquisa dez professores de educação física escolar, atuantes na educação infantil e no ensino fundamental. Os dados foram obtidos por respostas a um questionário com cinco questões agrupadas sobre o uso vocal na prática profissional e por respostas a Escala de Sintomas Vocais (ESV) para investigar a presença de sintomas associados ao uso da voz que sinalizam risco de desenvolver disfonia. Os professores revelaram intenso uso da voz durante as aulas de educação física, estratégias pontuais de cuidados com a voz e pouco conhecimento do uso vocal durante o exercício profissional. Manifestaram a compreensão da importância da própria voz na interação com os alunos e destacaram fatores interferentes como a natureza das atividades propostas para incentivar o movimento corporal em ambientes pouco favoráveis e com muitos alunos. Os escores da ESV revelaram a presença de sintomas vocais em todos os professores, sendo que sete dos dez professores obtiveram escores iguais ou maiores que 16, indicativos de risco vocal e/ou presença de disfonia em graus variados. A análise dos dados dos instrumentos de pesquisa evidenciou que múltiplos fatores exercem influência sobre os resultados, o que sugere que a proteção e o adequado uso da voz não dependem apenas de uma medida ou atitude do próprio professor, mas de um conjunto de fatores que devem ser considerados no dia a dia de trabalho. Há, ainda, necessidades a serem supridas em favor da voz do professor, como a conscientização de que é um profissional da voz e, portanto, necessita da devida capacitação para um uso vocal adequado.

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