TRAJANO

Lino Castellani, em seu comentário sobre o falecimento do Manoel Trajano coloca que ele fazia parte do grupo dos ‘jovens paulistas’ que vieram para o Maranhão, em meados da década de 1970…

Não. Trajano chegou por estas terras já nos anos 1980, creio que ou no final de 1980, ou inicio de 1981. Lembro o dia em que, trabalhando na Secretaria de Esportes e Lazer do Maranhão, na Coordenação de Esportes – cujo coordenador era o impagável Gafanhoto, José de Ribamar Miranda, hoje o chamado professor Miranda, por uns e reconhecido como ‘aquele inseto que mora no Bequimão, pelo Dr. Peta em sua coluna do JP…

Um dia, Miranda-Gafanhoto entra na sala da coordenação e diz: Leopoldo, esté é o … – como -é mesmo teu nome? – Trajano. Ele é técnico em atletismo, e foi indicado pelo Moacir (Moraes da Silva, da UFMA). Converse com ele, veja as credencias e depois me dê um parecer por escrito, se podemos contratá-lo…

Junto com Trajano, a sua mulher, Aparecida… até então apenas o acompanhando…

Conversamos, disse de sua experiência com o Atletismo, em São Paulo; que era amigo do Moacir, e que este o convidara para tentar a sorte no Maranhão. Estava aqui, já de ‘mala e cuia’, com a mulher – até então não tinha filhos… Após me apresentar seu currículo, a documentação, e uma conversa bem proveitosa, fiz o parecer solicitado, indicando a contratação. Necessária!! no meio da conversa, já definido que iria dar parecer favorável à sua contratação, surgiu o fato outro: de que Aparecida também era professora de educação física, e também trabalhava com Atletismo… então sugeri a contratação de ambos. Gafanhoto disse que só havia uma vaga, de 40 horas, de técnico; ponderei que seria mais vantajoso, para o Estado e a SEDEL termos garantidos a contratação dos dois, pois necessit[avamos de uma técnica para atender ao feminino… duas vagas, de 20 horas… foi o que ele levou ao Secretário – Sr. Elir de jesus Gomes -, que concordou… Ambos aceitaram a proposta de 20 horas de trabalho semanais, garantida a nomeação. O que ocorreu.

Depois, aconteceu o mesmo na Escola Técnica Federal do Maranhão. Necessária, e justificada a contratação de ambos, devido ao Curso Técnico de Educação Física; naquela ocasião, Lino Castellani Filho ainda era o Coordenador, e quem solicitou a contratação de ambos. Com a saída do Lino para o Mestrado, Trajano assumiu a coordenação do curso de educação física da ETFM, até seu encerramento.

Eu viera para a Escola Técnica para ser técnico de atletismo, substituindo o Prof. Juarez, que estava ‘tapando buraco’ com a aposentadoria do Prof. Manoel Furtado. Permaneci como técnico de atletismo, até 1989, quando Trajano, Aparecida e Carvalhinho assumiram a função de técnicos das diversas categorias da ETFM – Trajano com o Juvenil Masculino; Carvalhinho com o Infanto masculino; e Aparecida com o Feminino…

Quando da chegada do Trajano, ele e Cida se envolveram na administração do Atletismo, como diretores da Federação de Atletismo do Maranhão – eu era o presidente, Mesquita o meu vice-presidente, e Trajano assumiu, com Cida, a Diretoria Técnica; depois, com minha renuncia, Mesquita assumiu a Presidência e Cida a Vice-presidencia e Trajano permaneceu como diretor técnico; eu me afastei do Atletismo federativo…

Quando ainda na presidência, surgiu uma vaga para ir à uma competição na Coreia, como chefe de delegação; a vaga, por serviços prestados, cabia ao Maranhão – indiquei |Trajano como nosso representante e lá foi ele… quando Trajano retornou começa a pressão na ETFM – por parte do Prof. Rubem, então coordenador de educação física – para que ele assuma a função de técnico de atletismo, afinal, fora  ‘técnico’ da seleção brasileira no Mundial de Cross-Country… asseguro que Trajano sempre foi contra essa manobra…

Trajano assume a direção técnica do atletismo da  AAD-Alumar; os atletas, eram os ex-alunos da ETFM – meus alunos – e parte da equipe juvenil e infanto; mais alguns outros, de outras escolas, e a ETFM permanecia como clube escolar… sempre escalávamos os atletas, para as diversas competições, de ambas as equipes, juntos… dividíamos os atletas, treinávamos os atletas juntos. Trajano nunca interferiu no treinamento dos meus alunos, aceitava o que eu dava e depois de algumas ponderações, os escrevia na Alumar e eles passavam a competir por lá. Bom para ambos, pois os meus alunos passavam a ter experiência em competição; nos jogos Escolares já estavam maduros… bom para ele, pois tinha muitos atletas à disposição, para montar as equipes.

Nesse período, muitos ex-alunos da ETFM/CEFET voltaram a treinar – com Trajano, ora na pista da Escola, ora no Castelinho – e foi o grande momento do atletismo maranhense, em nível regional (Norte  e Nordeste).

O que as pessoas não entendiam, que éramos rivais, mas cordiais, dividindo as responsabilidades pelo treinamento dos alunos-atletas; eu continuava como tecnico da Escola e Trajano como do Estado e da federação… mantivemos essa parceria por anos… e a pressão, com os sucessivos títulos estaduais e alguns destaques regionais e outros nacionais, de atletas de Trajano, para que ele assumisse a direção também, do atletismo da Escola.

Um dia, em 1989, me aborreci, e após os JEMs desse ano, entreguei as equipes à coordenação. Foi quando Trajano, depois de muito tentar me demover dessa ideia, aceitou assumir o lugar, e Cida o feminino… todos sabemos o resultado dessa decisão…

Desde aquela ida para a Coreia, que Trajano fez amizade com um grande amigo e ex-atleta meu, dos tempos do Paraná: Martinho Nobre dos Santos. A competência de Trajano, e Martinho tendo assumido posição de destaque na Confederação Brasileira de Atletismo – CBAt, na administração do Roberto Gesta de Melo – eu que os aproximei, Martinho e Gesta – fizeram com que Martinho chamasse Trajano para ajudá-lo na CBAt; estava lá até os momentos finais, assumindo cada vez mais obrigações e responsabilidades…

A morte de Trajano é uma grande perda, não só de um grande amigo, um irmão, mas para o Atletismo maranhense e brasileiro…

Trajano escondeu até sua morte sua condição de saúde. Fomos todos tomados de surpresa, quando da causa – câncer – pois até então justificava seu emagrecimento, e suas dores, como suas dores por um problema de quadril, e precisava perder pelo menos 10 quilos; já andava claudicando…

Revolto-me, como o Laércio costuma dizer: por que só os bons morrem primeiro? por que essas mortes só do nosso lado?

Vá com Deus, meu irmão Trajano…

 

 

Comentários

Por José Ribeiro da Silva
em 1 de Dezembro de 2015 às 20:53.

Prezado Leopoldo e todos os demais amigos Maranhesses. É com muita surpresa e pesar que tomo conhecimento do falecimento do companheiro do Atletismo. Como técnico, árbitro e dirigente do Atletismo no Piauí, compartilhamos muitos anos na difícil tarefa de manter vivo o esporte que escolhemos para praticar, trabalhar e amar. 


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