Treinador de corredores de elite está pessimista com atletismo brasileiro

“Fundo… do poço”

A minha coluna desta terça-feira no caderno Equilíbrio, da Folha, comenta a recente medida provisória de apoio ao esporte de alto rendimento no país. Anunciada no apagar da luzes deste governo, a medida me parece positiva, opinião que ouvi também de vários entrevistados que cito no texto.

O problema é que, apesar de, em princípio, benéfica, a iniciativa dificilmente vai possibilitar a descoberta de novos talentos, coisa que exige uma política ainda mais ampla e de prazo mais longo que o horizonte de Rio-2016. Com o aporte de recursos, talvez seja possível burilar algumas promessas existentes hoje, disseram alguns de meus entrevistados. Ou menos que isso, de acordo com o quadro pintado por Claudio Castilho, treinador de corredores de elite do clube Pinheiros, como o maratonista olímpico José Telles, além de corredoras como Maria Zeferina Baldaia e Adriana da Silva.

Eis a avaliação que ele faz da situação atual do mundo dos corredores de elite no país: “A situação é realmente ruim no fundo brasileiro. No masculino, temos volume de corredores, mas não qualidade. Está se tornando normal subir no pódio de qualquer prova com marcas bem fracas, algo como 29min30 até 30min30 nos 10 km e todos aceitarem isso como uma coisa normal. Na meia maratona, então, temos um único atleta que corre normalmente sub1h03 (Marílson). Todos os demais acima –e bem acima– disso. Vejo que de forma geral os atletas fogem dos combates e dentro das provas se acomodam com posições que garantam premiações mínimas”.

Para o treinador, é difícil apontar um único motivo para essa situação. Ele diz: “Prefiro acreditar que todos nós minimamente envolvidos no atletismo temos nossa parcela de culpa: confederação, federações, clubes, treinadores e atletas. Não cito aqui os organizadores de prova, por não considerar que algum dia eles se preocuparam com a evolução do atletismo; eles só buscam lucros e negócios através do nosso esporte. Creio que a CBAt deveria ser mais incisiva e taxativa em relação a normativa para todos eles”.

Sem fugir a polêmicas, Castilho continua a montar um quadro pessimista em relação às chances de o país ter boa participação nas provas de fundo no Rio-2016: “No feminino, a coisa é muito, mas muito pior, pois não temos nem volume (quantidade de atletas). A atleta mais jovem no momento é a Michele Chagas, e olha que já a conheço desde a categoria pré-mirim, o que deve fazer pelo menos uns 12 anos. Nossas outras atletas que poderiam ter conquistado algo estão lesionadas e praticamente abandonaram as competições, como Lucélia Perez e Pretinha (Ednalva Laureano). As demais todas estão acima dos 29 anos de idade e com muito tempo de atletismo”.

O treinador faz ainda um alerta e apresenta propostas: “Estamos muito atrasados no processo de descoberta de talentos, temos que fazer algo para que haja um retorno ao esporte escolar. Não me agrada a política de fazer a política do “saiu atleta novo manda buscar” porque, além de ser mais caro, a chance de dar errado é grande”.

E conclui: “Penso que os ministérios do Esporte e da Educação deveriam sentar e fazer a lição de casa, primeiro incentivando a pratica das modalidades nas escolas, segundo incentivando e preparando os professores para esse futuro com as crianças”.

Por Rodolfo Lucena

Comentários

Por Clayton Cesar de Oliveira Borges
em 3 de Outubro de 2010 às 11:38.

Prezado Leopoldo,

Sou professor da rede publica de SP, o estado mais rico da federação, gosto muito de atletismo, tenho uma turma de treinamento na escola e percebo a desvalorização da modalidade.

Os alunos das escolas estaduais de SP participam de uma competição escolar chamada de Olimpíada Colegial, participam das fases sub-regional, regional e final estadual.

O regulamento da competição prevê que na fase sub-regional sejam premiados os alunos classificados de 1º a 3º lugar, a fase regional é apenas classificatória p/ final estadual, onde apenas o 1º de cada prova se classifica p/ final estadual.

Porém, a fase sub-regional, que é de responsabilidade da secretaria de esportes lazer e turismo de SP ( SELT) pela premiação dos alunos, nunca é repeitada, os alunos simplesmente não recebem as medalhas, que tem um valor simbólico grande p/ eles, já mandei diversas vezes reclamação p/ ouvidoria mas nada resolveram.

Como vamos incentivar os alunos a participarem de uma modalidade esportiva que não é tão popular, onde os treinamentos tem de ser adaptados por falta de materiais e espaço físico, e além disso uma modalidade esportiva em que o aluno só será premiado  se classificar entre os 3 primeiros colocados na final estadual, onde competem atletas federados!

Além disso não respeitam os alunos e nem professores, muitas vezes  a fase regional acontece apenas 1 dia após a fase sub-regional, e algumas cidades ficam 4, 5 horas distantes da cidade sede da competição, imaginem o desgaste p/ os alunos, imagine a prova dos 3.000 m.

Além disso, certa vez numa final estadual, um aluno na prova do salto em altura saltou melhor que o atleta federado, que iria representar SP na final brasileira da olimpíada escolar, no momento que o aluno iria saltar numa marca superior ao que o atleta federado tinha feito o índice um representante da federação paulista entrou na pista e pediu p/ o aluno não saltar mais, pois tinha ganhado a competição, mas, na verdade, ele não queria que o aluno  superasse o índice do atleta que já estava acertado p/ ir a final brasileira, foi a coisa mais ridícula que já vi!

Por essas e outras razões não vejo mais sentido em levar os alunos p/ essa competição, que prima pelo desrespeito ao ser humano...

Me desculpe se estender tanto nos comentários ( desabafo)


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