Reproduzirei abaixo um texto que escrevir no meu blog Esporte em Rede sobre a experiência de participar de um momento muito rico da educação física aqui em Salvador: o festival de ginástica. O mesmo está na íntegra, excetuando os vídeos que compõem o texto. Quem quiser assistir os mesmos é só acessar o link http://esportemrede.blogspot.com/2009/11/para-alem-do-esporte-mobilizando.html . Como o texto faz parte do blog, alguns elementos do mesmo se remete a outro contexto do próprio blog, mas na essência, o texto fala da riquíssima experiência proporcionada pelo conjunto dos professores da rede estadual de educação da Bahia, sob a orientação da professora Celi Taffarel e participação, este ano, de professores de outros Estados, como Pernambuco, Alagoas, Paraíba.
Vamos ao texto.
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Na nossa última postagem nos inspiramos na questão do "apagão" ocorrido recentemente para pensarmos a relação entre a elite e o povo brasileiro. Mas não nos restringimos a isso. Refletimos também sobre como determinadas instituições reproduzem valores que fortalecem o ideário neoliberal, ou como já querem alguns pensadores, depois de mais uma crise do capital no ano passado, pós-neoliberal.
Quando escrevemos instituições, pensamos em basicamente duas: escola e esporte. Aprendi, nos bancos da faculdade de educação, na Universidade Federal da Bahia no início dos anos 90, que "a criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista". Não creio que o autor que disse isso ainda pense assim. Aliás, duvido muito, pois o mesmo, no último Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, na plenária final, sem nenhuma mediação, disse em alto e bom som: viva as educações físicas.
Pois é. E os doutores que lá estavam, nada questionaram. Ficaram em silêncio. Consentiram. Para que abrir um debate desnecessário, logo no final de um evento científico? Pois deve ser isso mesmo. Se "ele" falou, tá falado. Que cada um cuide da "sua" educação física e ponto final.
Mas, apesar dos pesares, eu ainda acredito no que aprendi lá atrás. A diferença é que agora eu consigo enxergar as mediações. Não na sua intereza, ainda não atingir tal grau de compreensão do movimento do real. Mas o suficiente para aprender que não são "todas" as educações físicas que servem para as diferentes classes sociais. Algumas servem mais do que outras. Por exemplo, a educação física que defende a escola como um lugar onde se fabrica atletas. Essa eu não posso louvar. Como não posso louvar a outra que por extensão, reduz a educação física à prática do esporte. De preferência, obedecendo as mesmissimas regras impostas pelas federações e suas devidas penalizações, caso os educando(?) se tornem desobediente às regras.
Mas a educação física que se utiliza dos elementos da Cultura Corporal como mobilizador da comunidade, através da prática de outros conteúdos do seu acervo, esta eu louvo. Digo um grande viva em alto e bom som: VIVA!!! Foi justamente esta experiência que vivenciei, junto com outros colegas, no sábado, dia 14 de novembro último, na Escola Edgard Santos, no Fazenda Garcia. As imagens abaixo mostram um grupo de jovens ensaiando a sua apresentação, para logo depois, dentro de um ginásio lotado de outros tantos jovens de diversas comunidades da cidade do Salvador e de outros estados (Alagoas e Paraiba) se apresentarem, demonstrando um domínio corporal impressionante, onde além da técnica propriamente necessária para o domínio dos gestos, continham a plástica e a beleza estética.
Foi um dia inteiro de muito gesto corporal através da ginástica e dos seus fundamentos e da dança e das suas possibilidades e nenhum pódium, medalha, ou premiação de primeiro colocado. Crianças, jovens, adultos e idosos. Estudantes das escolas públicas e das universidades, professores e professoras, moradores das comunidades, todos participando pela alegria de participar, buscando materializar na prática, a difícil tarefa de se auto-organizarem em função do coletivo.
Foi um dia muito rico. Só mesmo quem esteve por lá para poder sentir a força do momento que se expressava em cada grupo das escolas que se apresentavam. Falando em grupo, sabe aquele lá do início, que ensaiava para a apresentação? Pois é, veja como ficou. Os seus movimentos podem expressar, muito mais do que as minhas parcas palavras, não só o que significou o evento mas, também, que a educação física na escola tem muito mais o que fazer do que fabricar atletas.
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